Vancouver, abril de 2015. Após atravessarmos um lamaceiro de fazer inveja aos festivais de rock ingleses e carcaças de carros misturadas às de naves futuristas, encontramos abrigo em uma tenda de plástico vagabunda.
"Bem-vindos ao nosso luxuoso set de filmagens", nos recebe o ator Ryan Reynolds, vestindo o uniforme rubro-negro do anti-herói Deadpool, personagem de quadrinhos da Marvel criado em 1991 por Fabian Nicieza e Rob Liefeld.
Não é o tipo comum de locação hollywoodiana,mas combina com "Deadpool". "O personagem ocupa um espaço com que ninguém na indústria se preocupa. É arriscado, um filme que quebra diversas regras", diz Reynolds, envolvido com o projeto desde 2004.
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| O ator Ryan Reynolds como o anti-herói falastrão Deadpool |
À época, tudo era diferente para "Deadpool". O estúdio era outro (New Line) e vários diretores passaram pela cadeira (David S. Goyer, Robert Rodriguez) até a Fox assumir. Mas o estúdio não sabia o que fazer com o mercenário falastrão de rosto deformado que fala com o leitor, mata bandidos grotescamente e adora piadas de conotação sexual.
Foi quando decidiram testá-lo em "Wolverine" (2009), primeiro filme solo do X-Men. O longa foi massacrado pela crítica e o personagem virou um vilão barato. "O estúdio subestimou o número de fãs", conta o ator. "Mas foi a melhor coisa que nos aconteceu."
Os roteiristas Paul Wernick e Rhett Reese, de "Zumbilândia" (2009), foram chamados para recuperar a glória insana do personagem. "Escrevemos um roteiro mais infantil, sem sexo, palavrões ou violência. Mas a Fox queria fazer diferente e como os fãs desejavam", explica Reese.
Apesar disso, a produção –agora com Tim Miller no comando– ainda não havia recebido o sinal verde. "O filme ficou seis anos à beira de ser confirmado. Era como uma relação amorosa tóxica. Parei de responder os e-mails do diretor para tentar esquecer", recorda-se Reynolds.
Foi quando uma tática subversiva foi posta em prática: em julho de 2014, na San Diego Comic-Con, maior convenção de cultura pop dos EUA, o vídeo-teste com uma cena de ação fiel ao personagem "vazou" e os fãs enlouqueceram.
O crime compensou. Dois meses depois, a Fox anunciou que lançaria "Deadpool" em fevereiro de 2016.
"Deadpool" manteve o espírito anárquico que os fãs exigiram. E isso nos leva a Vancouver, chuvosa cidade canadense escolhida por produções em busca de economia. "Não somos uma franquia como 'X-Men'", diz Miller, que teve um orçamento de US$ 60 milhões.
Mas não parece barato. A sucata lamacenta, palco para Deadpool (Reynolds) enfrentar o vilão Ajax (Ed Skrein), ganha um porta-aviões similar ao de "Os Vingadores".
Reynolds esconde seu rosto de galã em boa parte do filme –sob a máscara ou a maquiagem que replica a deformação gerada pelo tratamento que desperta os poderes de regeneração do personagem.
As piadas sujas e as lutas violentas que marcam os gibis estão no longa (a classificação no Brasil é de 16 anos). "Trocamos parte da bilheteria por um bom filme", diz Wernick.
Para ampliar o universo da Fox, o X-Men Colossus (voz de Stefan Kapicic) e a mutante Míssil Adolescente Megassônico (Brianna Hildebrand) fazem participações. "Se 'Deadpool' for bem-sucedido, acho que ganha uma sequência antes de mergulhar no universo dos X-Men", diz Reese.
"Mas vamos escrever a continuação no Havaí. Chega de chuva e frio."
O jornalista RODRIGO SALEM viajou a convite da FOX
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SANGUE E SUOR
'Deadpool' não é o primeiro filme de super-herói para 'adultos' a sair dos gibis
WATCHMEN (2009)
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| Jeffrey Dean Morgan em cena de "Watchmen", do diretor americano Zack Snyder |
No filme de Zack Snyder, há super-heróis amorais, nudez frontal, sexo e muita violência
BLADE, O CAÇADOR DE VAMPIROS (1998)
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| Wesley Snipes em cena do filme "Blade - O Caçador de Vampiros" |
Violento e divertido, chegou dois anos antes de a Fox lançar "X-Men" e dez antes de "Homem de Ferro" –1º longa do universo interligado da Marvel
KICK ASS (2010)
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| Aaron Johnson como o herói Kick-Ass no filme "Kick-Ass - Quebrando Tudo" |
O tom mais violento e sarcástico em relação aos heróis é bastante semelhante ao de "Deadpool"