"Deadpool" é divertido até para quem não conhece o personagem. E irresistível para aqueles que acompanham de perto os heróis da Marvel e por isso conseguem entender todas as referências aos quadrinhos. Esses fanáticos podem deixar o cinema com a barriga doendo de tanto rir.
É um filme de ação, claro, com tiros explodindo cabeças e mãos poderosas quebrando pessoas ao meio –do lado dos heróis e também dos vilões. Mas o sangue e os nacos de carne voando nem recebem tanta atenção.
Porque ninguém consegue tirar o foco do discurso falastrão de Deadpool, o herói (?) que dispara mais de uma piada irônica por minuto.
Numa cena, o vilão ameaça costurar a boca dele. Impossível não se solidarizar com o bandido estressado. Deadpool inferniza mesmo.
O personagem foi considerado por muito tempo como impossível de ser adaptado para o cinema. Como encaixar tanta falação grosseira em cenas de ação? A solução não foi enxugar as piadas dos balões. Pelo contrário. O filme ficou empanturrado delas. Ryan Reynolds disse que nunca decorou tanto texto.
A arrebatadora performance do ator é uma redenção. Para fazer o público perdoar seu fiasco em "Lanterna Verde" (2011) e a versão sem sal e comportada que ele fez do próprio Deadpool como coadjuvante em "X-Men Origens: Wolverine" (2009).
Nos gibis, Deadpool se dirige aos leitores. No filme, também conversa com o espectador. Faz o que é chamado no teatro de "derrubar a quarta parede", ou seja, interagir com quem assiste e escancarar o tempo todo que tudo ali é representação.
Após contracenar em várias cenas com os mutantes Colossus e Míssil Adolescente Megassônico no QG dos X-Men, Deadpool pergunta: "Por que só vejo vocês dois? A produção do filme não tinha dinheiro para pagar mais X-Men?".
Reynolds achou o papel de sua vida como o ex-mercenário que conquista superpoderes ao aceitar um tratamento misterioso para tentar se curar de um câncer terminal.
Ganha força descomunal e um fator de cura que o deixa invulnerável, mas também o rosto e o corpo repugnantemente deformados –o que provoca seu afastamento da amada, a prostituta Vanessa.
Em um filme de herói com cenas quentíssimas de sexo, é irresistível a presença de Morena Baccarin, da série "Homeland". A brasileira radicada nos Estados Unidos cria uma Vanessa para pulverizar libidos de leitores de HQ.
Numa das inúmeras brincadeiras com a produção do filme, os roteiristas são chamados de "os verdadeiros heróis desse negócio". Verdade. Souberam adaptar o inadaptável Deadpool para criar um "cult movie" instantâneo. Que venha logo "Deadpool 2".