Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Show quase impecável abre turnê latina dos Rolling Stones

E assim começa: pela primeira vez em sua carreira de mais de 50 anos, os Rolling Stones iniciaram a primeira turnê exclusiva pela América do Sul, região que, para muitos, concentra seus maiores fãs.

A romaria, curiosamente denominada Olé, que começou na quarta (3) em Santiago, levará a banda não apenas à Argentina e ao Brasil novamente, mas também ao Uruguai, Peru e Colômbia pela primeira vez. A previsão é que ela se encerre na Cidade do México em 17/3, mas é quase certo que seja acrescentada uma escala em Cuba.

Os ingressos são embaraçosamente caros. Esses diabos não demonstram nenhuma simpatia, considerando a dor econômica sentida em toda a região. O ingresso de pista em São Paulo (inteira) varia entre R$ 440 e R$ 900. Mas uma coisa sempre é certa em um show dos Stones: ninguém jamais sai insatisfeito.

A julgar pelo show chileno, em Santiago, que a maioria imaginava que seria um ensaio enferrujado, é difícil identificar qualquer área problemática. A apresentação de duas horas e dez minutos de duração foi quase impecável, muito distante dos recentes concertos sem brilho em San Diego (EUA), no ano passado, e Oslo (Noruega), no ano anterior, que também abriram turnês (é claro que, nos dois casos, os Stones acabaram pegando no embalo mais tarde).

Idealmente os Stones tocariam um set list mais aventuroso a cada noite, mas eles não são revolucionários. Os fãs brasileiros poderão esperar uma segunda metade do show cheia de velhos favoritos como "Miss You", "Gimme Shelter" e "Sympathy for the Devil", além da canção que encerra o show, "(I Can't Get No) Satisfaction". A maioria das canções da primeira metade também não mudam.

O único curinga envolve uma votação na internet em que os fãs podem optar entre quatro canções. Em Santiago, os Stones tocaram "She's a Rainbow" pela primeira vez desde 1998. Mick Jagger pendurou uma guitarra no pescoço para a ocasião, arrancando gritos de "olé, olé...".

Foram muito melhores destaques como "Paint It, Black", que finalmente levou a plateia chilena a entrar em transe, 40 minutos depois de o show começar, e o blues homicida "Midnight Rambler", que durou 13 minutos.

Preveja caos total quando essas canções foram apresentadas do outro lado dos Andes. E quem sabe os Stones deixem os fãs votarem em "Undercover of the Night", a "homenagem' às ditaduras latino-americanas criada pela banda em 1983?

Escute o repertório do show

MICK & KEITH

Falando em Mick Jagger, aos 72 anos de idade ele ainda é o vocalista mais sexy do rock'n'roll, impossivelmente flexível e com a voz potente. Foi dono do palco e, em pouco tempo, de todo o Estádio Nacional, não parando por um segundo e encontrando tempo para brincar com a multidão e falar em espanhol (é claro que as piadas são escritas para ele de antemão e mostradas no teleprompter).

Seu relacionamento com seu antigo colega de escola e ocasional antagonista Keith Richards ainda é marcado pelo bom humor. Os dois estão se dando muito bem desde que a namorada estilista de Jagger cometeu suicídio, no início de 2014.

Antes disso, a tensão perceptível entre eles no palco na turnê norte-americana de 2013 causava incômodo. No final do show em Santiago, quando Jagger estava terminando "Satisfaction", ele recuou um passo e esbarrou em Richards, que o empurrou com ar de brincadeira e pareceu estar prestes a perseguir o vocalista em volta do palco. Os dois gargalharam. Nos últimos anos, Jagger teria recebido um olhar malévolo se cometesse tal pecado.

Keith Richards também estava cheio de energia. Em vários momentos ficou caminhando pelo palco, arrancando riffs trovejantes da guitarra, ou comunicando-se telepaticamente com o também guitarrista Ron Wood e o baterista Charlie Watts.

Wood, cuja mulher grávida evidentemente optou por ficar em casa em vez de correr o risco de viajar pela América do Sul, brilhou em seus solos em "Tumbling Dice" e "Midnight Rambler". E Charlie Watts, como de costume, foi o homem mais elegante sobre o palco, trajando as cores nacionais do Chile: camiseta vermelha, calças azuis e meias brancas.

Levando tudo em conta, foi um grupo muito bem engrenado sobre o palco, com o apoio de sete músicos e vocalistas de backing.

Levando em conta que o sol se põe tarde no verão sul-americano, os Stones criaram um design marcante de palco: cores pastéis em tinta fluorescente emoldurando a maciça estrutura preta. E os produtos de merchandising são previsivelmente abundantes e caros demais. Mas é claro que todos venderam como água.

Em última análise, esta será essencialmente uma turnê de "alô e adeus" para os fãs que por mais tempo nunca puderam vê-los. Será que a banda voltará em dez anos? É provável que não.

O jornalista neozelandês DEAN GOODMAN já assistiu a 227 shows dos Stones em 32 países.

Tradução CLARA ALLAIN

ROLLING STONES OLÉ

*

OLÉ datas da turnê latina

Buenos Aires, Argentina
QUANDO 7, 10 e 13/2
QUANTO de R$ 52 a R$ 820

Montevidéu, Uruguai
QUANDO 16 de fevereiro
QUANTO de R$ 292 a R$ 2.675

Brasil
QUANDO 20 de fevereiro
ONDE Maracanã, Rio
QUANTO de R$ 260 a R$ 900

QUANDO 24 e 27 de fevereiro
ONDE Estádio do Morumbi, SP
QUANTO de R$ 260 a R$ 900 (esgotado no dia 27)

QUANDO 2 de março
ONDE Estádio Beira Rio, Porto Alegre
QUANTO de R$ 350 a R$ 1.500

Lima, Peru
QUANDO 6 de março
QUANTO de R$ 360 a R$ 2.700

Bogotá, Colômbia
QUANDO 10 de março
QUANTO de R$ 240 a R$ 1.200

Cidade do México
QUANDO 14 e 17/3
QUANTO de R$ 82 a R$ 2.285


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