Folha de S. Paulo


Rolling Stones iniciam turnê 'Olé' com show de mais de duas horas no Chile

Rodrigo Garrido/Reuters
Rolling Stones se apresentam no Estádio Nacional, no Chile, no primeiro show da turnê Olé, na América Latina
Rolling Stones se apresentam no Estádio Nacional, no Chile, no 1º show da turnê Olé, na América Latina

Se passaram quase sete meses desde que os Rolling Stones fizeram seu último show, mas foi como se nunca tivessem feito uma pausa quando deram início à sua turnê América Latina Olé em Santiago, na quarta-feira (3).

Observadores experientes dos Stones esperavam que o primeiro show da banda no Chile há quase 21 anos (e apenas a segunda vez do grupo no país) seria um ensaio geral para as paradas muito esperadas na Argentina (a partir de 10 de fevereiro em La Plata) e Brasil (a partir de 20 de fevereiro no Maracanã). Mas é difícil apontar onde precisam melhorar. O show de 2 horas e 10 minutos foi quase impecável, muito diferente dos recentes inícios de turnê que deixaram a desejar em San Diego, no ano passado, e em Oslo, no ano anterior. (É claro, em ambos os casos, eles posteriormente acertaram o passo.)

Idealmente, os Stones apresentariam um set mais ousado a cada noite, mas raramente são revolucionários. Logo, os fãs brasileiros podem esperar uma segunda metade repleta de velhos sucessos como "Midnight Rambler", "Miss You", "Gimme Shelter", "Sympathy for the Devil" e o encerramento com "(I Can't Get No) Satisfaction".

A única relativa raridade, "She's a Rainbow", foi escolhida pelos fãs online. Jagger tocou guitarra e o guitarrista Ronnie Wood se sentou para tocar a "pedal steel guitar", fazendo parecer que estavam prestes a transformar a balada da era psicodélica em uma canção country. No final, a canção serviu mais como espaço para o tecladista Chuck Leavell brilhar.

Os destaques foram "Paint It Black", que finalmente levou o público ao delírio passados 40 minutos da apresentação; e o blues homicida "Midnight Rambler", que se estendeu por 13 minutos.

Quanto aos próprios Stones, Mick Jagger continua sendo o homem mais sexy no rock and roll, impossivelmente ágil e em plena voz. Ele foi dono do palco e posteriormente do Estádio Nacional, sem parar por um segundo, e encontrando tempo para fazer piadas com o público em espanhol (é claro, as piadas foram escritas previamente e foram lidas em um teleprompter).

Seu relacionamento com Keith Richards permanece extremamente amistoso. Os dois têm se mostrado os melhores amigos desde que a namorada estilista de moda de Jagger cometeu suicídio no início de 2014. Antes disso, a tensão no palco entre eles durante a turnê de 2013 pela América do Norte era distintamente desconfortável. Bem no final do show em Santiago, enquanto Jagger concluía "Satisfaction", ele deu passos para trás na direção de Richards, que o empurrou de volta brincando e parecia que sairia perseguindo Jagger pelo palco. Ambos caíram na gargalhada. Nos últimos anos, invasões territoriais como essa provocavam trocas de olhares furiosas e até mesmo violência de fato por parte de Richards.

Escute o repertório do show

Por sua vez, Richards passou grande parte do show profundamente concentrado, em contato visual próximo com Ronnie Wood e com o baterista Charlie Watts. Richards ocasionalmente se aventurava pela passarela que se estende pelo gramado do estádio, sem perder o passo enquanto sorria para os fãs empunhando smartphones e paus de selfie. Wood brilhou durante os solos em "Tumbling Dice" e "Midnight Rambler". E Watts, como de costume, era o homem mais bem vestido no palco, exibindo as cores nacionais do Chile –camisa vermelha, calças azuis e meias brancas. Veremos quais serão suas escolhas de cores no Brasil.

No geral, foi uma unidade coesa e em forma no palco, contando com o bom suporte dos sete músicos e cantores de apoio. Entre eles estava Sasha Allen, fazendo sua estreia como substituta da veterana cantora de apoio Lisa Fischer, que oficialmente tinha outros compromissos. Allen, mais de duas décadas mais jovem que Fischer, acrescentou uma elegância sutil a canções como "Gimme Shelter", que se tornou desagradável de ver e ouvir nos últimos anos.

O show teve início pouco depois das 21h, horário local, com "Start Me Up", uma das três canções que se revezam como abertura –as duas outras sendo "Brown Sugar" e "Jumpin' Jack Flash", que foram guardadas para depois. São opções seguras, permitindo aos Stones posarem para os fotógrafos presentes no fosso em frente ao palco por uma única canção.

Richards passou rapidamente ao modo de ataque em "It's Only Rock 'n' Roll", a melhor canção de Chuck Berry não composta por este. Ele optou por não fazer o "backing vocal" em "Let's Spend the Night Together", mesmo com um microfone trazido ao palco para que usasse, mas agraciou os fãs com suas harmonias ásperas em "Wild Horses", uma rara balada que Jagger apresentou como sendo uma canção "romântica".

A canção mais nova no set, com apenas 19 anos, foi "Out of Control", na qual Jagger de fato parecia "fora de controle", dançando pelo palco como um homem possesso por demônios. Os fãs de carteirinha entre o público jovem apreciaram a faixa do álbum "Bridges to Babylon"; outros podem ter ficado um pouco confusos.

Tendo o pôr do sol mais tardio do verão sul-americano em mente, os Stones vieram com um design de palco chamativo –tons pastel fluorescentes emoldurando a imensa estrutura preta. Os souvenires eram previsivelmente abundantes e caros. É claro, tudo desapareceu das prateleiras.

No final, esta é basicamente uma turnê de despedida em benefício dos seguidores mais fanáticos –e injustamente ignorados– da banda, os sul-americanos. Será que os Stones voltarão daqui dez anos? Provavelmente não. E esse é o motivo para a banda estar cobrando ingressos embaraçosamente caros e tocando em estádios que não estão lotados. Mesmo assim, ninguém quer admitir que perdeu uma oportunidade de ver os Stones. E uma coisa é sempre verdadeira a respeito de um concerto dos Rolling Stones. Ninguém vai embora insatisfeito.

Tradução de GEORGE ANDOLFATO


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