Folha de S. Paulo


Museu do Amanhã apresenta avarias 40 dias depois de sua inauguração

O idílio com o Museu do Amanhã durou pouco mais de 40 manhãs. Neste fim de semana, o projeto no Rio de Janeiro orçado em quase R$ 300 milhões começou a apresentar suas primeiras avarias.

A gigantesca estrutura em formato de crustáceo albino, que demorou cinco anos para se erguer em um píer sobre a baía de Guanabara, expôs problemas em vez de arte, um mês e dez dias depois da sua inauguração –o público pode visitar a estrutura pela primeira vez em 19 de dezembro, e desde então lota diariamente a atração.

Os frequentadores que encarassem a hora e meia de fila na praça Mauá para entrar no Museu do Amanhã, no domingo (31), se deparariam com um mundo incompleto.

A começar pelo globo tridimensional em que são projetados o mapa-múndi e as mudanças causadas pelo homem no planeta Terra.

Parte das projeções ao redor da linha do Equador estão inoperantes, então fica impossível de ver o Brasil da metade dos ângulos.

No dia da abertura para autoridades, a presidente Dilma Rousseff, acompanhada pelo prefeito carioca, Eduardo Paes, e pelo governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, passou pelo mesmo globo e discursou que tudo ali era "tão novinho", mas que o museu já podia ser considerado patrimônio histórico.

Passando o saguão de entrada, mais problemas. Ficou fechada neste fim de semana a exposição "Perimetral", em que eminências como o artista plástico Vik Muniz e o diretor Andrucha Waddington fizeram videoarte e instalações com imagens da demolição do elevado de mesmo nome, que passava na mesma praça até ser demolido em 2014.

Motivo: quebra de equipamentos, segundo funcionários da instituição.

"Eu já tinha vindo ver a mostra permanente, que continua sendo exibida. Mas hoje queria ver com calma a arte que fizeram a partir da demolição do entorno e do renascimento, com esse museu. Mas acho que o Museu do Amanhã fica para amanhã ou depois de amanhã, né?", disse a professora Marluce Ribeiro, 46. A exposição está prevista para durar até meados de março.

Os visitantes que subissem da mostra interditada até o acervo permanente pela rampa lateral direita encontrariam ali outra novidade.

Um vidro do prédio, projetado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava, foi trincado. A estrutura inteiriça está espatifada, mas permanece no lugar. "Ele perguntou se era obra de arte", brincou a dona de casa Celia Lucas, 39, apontando para o filho Guilherme, 9, que olhava para o mar pelas janelas.

OUTRO LADO

Após receber uma lista das avarias encontradas seis semanas após sua abertura, a instituição respondeu à Folha com uma nota. O texto diz: "O Museu do Amanhã possui muitos equipamentos que fazem uso de tecnologias e, eventualmente, podem apresentar necessidade de ajustes. Tais ajustes são conduzidos com a maior agilidade possível. Em alguns casos, dependem da agenda de empresas fornecedoras especializadas".

Especificamente quanto ao fechamento de uma exibição para o público, escreveu-se: "A mostra 'Perimetral' precisou ser fechada no sábado para reparos, mas voltou a funcionar no domingo, às 16h30". A reportagem esteve no museu até as 17h, e a atração não havia sido reaberta.

Quanto à janela trincada e ao globo mundial que sofreu um apagão na região do nosso país, a afirmação é de que "os devidos reparos já foram solicitados". Não se estipulou um prazo para o conserto.


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