Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Rivette era um gigante da mesma estatura de Truffaut e Godard

O diretor francês Jacques Rivette morreu nesta sexta (29) em Paris, aos 87 anos, anunciou sua biógrafa, Hélène Frappat. Ele sofria de mal de Alzheimer havia alguns anos.

Um dos grandes diretores da nouvelle vague francesa (e do cinema), Rivette, nasceu em Rouen, no norte da França. Era mesmo um gigante, da estatura de François Truffaut e Jean-Luc Godard, embora menos famoso que estes dois.

Tornou-se conhecido nos anos 1950, como crítico de cinema. Era um dos chamados "jovens turcos" (com Truffaut, Godard e Éric Rohmer), que compravam briga com a crítica francesa na prestigiada revista "Cahiers du Cinéma".

Enquanto escrevia ensaios iluminados sobre mestres do cinema moderno, filmava curtas-metragens, dos quais o mais importante é "O Truque do Pastor" (1956), tido por muitos como peça fundadora do movimento.

Sua estreia em longas, "Paris nos Pertence", exemplifica uma das dificuldades dos jovens diretores franceses no final da década de 1950: pronto em 1958, ficou engavetado e só atingiu o circuito comercial em dezembro de 1961.

Com o fracasso comercial desse filme, ficou numa espécie de ostracismo, interrompido quando assumiu a editoria da "Cahiers", em julho de 1963, no lugar de Rohmer.

Em 1966, o retorno triunfal à direção de um longa com uma obra-prima cercada de escândalos: "A Religiosa", baseado em Denis Diderot. Deixa então mais evidente sua face experimental.

A ligação entre teatro e cinema, a duração e o improviso são marcas dos inigualáveis "Amor Louco" (1969) e o díptico "Out 1" (1971), o mesmo material com duas montagens diferentes: "Noli me Tangere", com 12 horas de duração, e "Spectre", de "apenas" quatro horas.

Nos anos 1970 e 80, continuou mudando a face do cinema moderno, principalmente com "Céline e Julie Vão de Barco" (1974), "Duelo" (1976), "L'Amour par Terre" (1984) e "La Bande des Quatre" (1989), filmes magníficos e pouco vistos no Brasil.

Com o crescimento do circuito de arte, o público brasileiro retomou contato com Rivette por um de seus mais belos filmes: "A Bela Intrigante" (1991), em que Emmanuelle Béart é a musa de um pintor em (Michel Piccoli).

Depois disso realizou mais nove longas, dos quais "Não Toque no Machado" (2007), o penúltimo, é essencial, e "36 Vues du Pic Saint Loup" (2009) é sua triste e embaralhada despedida.


Endereço da página:

Links no texto: