Cantora mineira radicada em São Paulo, Glaucia Nasser traz ao público uma espécie de volta às raízes. Depois de quatro álbuns sofisticados de pop e MPB, e de um disco em parceria com o lendário percussionista de jazz Sammy Figueroa, ela faz uma louvação à música de Minas no recém-lançado "Em Casa".
O disco foi uma ideia do compositor Alexandre Lemos, que propôs em um almoço a gravação de um álbum de músicas que ela escutava desde criança em Patos de Minas. "Ele me disse que um projeto assim deveria ter sido meu primeiro disco", conta Glaucia à Folha, "e me conquistou com a vontade de fazer tudo com voz e viola".
O repertório não se concentrou apenas em músicas antigas. Vai de "No Rancho Fundo", de Ary Barroso, a "Dois Rios", do Skank. No caminho, passa por João Bosco, Milton Nascimento e o Clube da Esquina, com um desvio saboroso em "Laranja Madura", de Ataulfo Alves.
25 CANÇÕES
Lemos dirigiu as gravações em 2012. Glaucia dividiu o estúdio com Sandro Prêmmero, que toca todas as cordas.
"Gravamos 25 músicas, mas o disco 'travou' na mixagem", diz a cantora. Enquanto ela discutia o rumo do álbum com Lemos, conheceu o americano Sammy Figueroa e seu trabalho com o jazzista deixou "Em Casa" parado, "quieto lá no canto", nas palavras dela.
"O Alexandre foi muito generoso comigo, deixou que eu decidisse o que fazer com as gravações. Aí veio o trabalho com o Sammy, num processo muito rápido. Organizamos o show, depois gravamos o disco, tudo num ritmo muito mais rápido daquele com o qual estou acostumada."
Entre 2013 e 2014, a parceria com Figueroa tomou suas atenções. Depois, uma dúvida: além do disco "mineiro", ela tinha de lidar com uma produção autoral que não registrava desde "Vambora" (2010), o quarto álbum solo.
FAVORITAS DE JK
Nos shows que fez no ano passado, mais um projeto começou a tomar forma. "Uma Noite com Juscelino" propõe reviver no palco os "anos dourados" do Brasil, focado no período da presidência de Juscelino Kubitschek (entre 1956 e 1961), que, segundo ela, "revolucionou a alma artística do país e governou numa época em que a identidade brasileira teve muita força".
Glaucia lembra o sucesso da bossa nova e a vitória da seleção brasileira na Copa de 1958 como parte dessa afirmação de um orgulho brasileiro. Estuda muito sobre a época e monta um show para contar isso à plateia, cantando músicas como músicas "Vivalda" e "Peixe Vivo", esta a canção favorita de JK.
No final do ano passado, depois de o álbum passar por uma remixagem com Enrico de Paoli, grande amigo da cantora, "Em Casa" ganhou a prioridade na carreira de Glaucia. Começou a mostrar o repertório nos shows e o disco foi para as lojas.
É um álbum impecável, um punhado de músicas pontuadas por sua cristalina e educada voz. Nas 17 faixas que entraram na edição final, algumas tendem a desconstruir as canções e reerguê-las em ótimos arranjos, como "Dois Rios", de Samuel Rosa, Nando Reis e Lô Borges. Quando opta por uma versão mais fiel, como em "Quando o Amor Acontece", de João Bosco e Abel Silva, a reverência gera uma interpretação impecável.
Mais do que nunca, 12 anos depois de seu primeiro álbum lançado, Glaucia Nasser é uma voz para ser acompanhada em 2016. Pode ser cantando suas próprias músicas, as memórias de Minas ou as favoritas de Juscelino.
EM CASA
ARTISTA Glaucia Nasser
GRAVADORA Canal 3
QUANTO R$ 25 (CD)