Folha de S. Paulo


Cinemateca voltará a receber filmes para preservação, afirma secretário

A Cinemateca "não está mais no tubo, já está tomando sol na porta de casa e até o meio do ano alçará voo". A afirmação é de Pola Ribeiro, que desde março de 2015 é titular da SAV (Secretaria do Audiovisual), órgão ligado ao Ministério da Cultura e responsável, entre outras funções, por gerir a instituição que preserva o cinema.

"Já em março a Cinemateca poderá voltar a receber filmes para a preservação", diz Ribeiro à Folha, após anunciar os novos programas da secretaria num painel durante a 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes.

Segundo o secretário do Audiovisual, até junho a Cinemateca contará com cerca de 40 funcionários no quadro para atender às demandas da entidade - há três anos havia quase o triplo. Hoje, são bem menos do que 40, mas o secretário não sabe precisar o número.

Leo Lara/Universo Produção
Universo ProduçãoEncontro com a SAV|Minc24.01.2016. TIRADENTES - MG.19ª MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES. Seminario | Dialogos do Audiovisual. Encontro com a SAV/Minc. Local: Cine-Teatro Sesi. Foto: Leo Lara / Universo Producao.
O secretário Pola Ribeiro durante a 19ª mostra de cinema de Tiradentes

Os cortes, que paralisaram algumas das atividades do órgão (que guarda cerca de 44 mil títulos do cinema brasileiro) foram resultado de uma crise por que passa a Cinemateca desde janeiro de 2013.

Na época, a então ministra da Cultura, Marta Suplicy, exonerou Carlos Magalhães da diretoria da instituição, que fica na Vila Clementino, zona sul de São Paulo, e congelou repasses à SAC (Sociedade Amigo da Cinameteca), entidade sem fins lucrativos que contratava os funcionários, após a Controladoria-Geral da União abrir uma auditoria para investigar o convênio entre a pasta e essa entidade.

Isso abriu uma crise sem precedentes na Cinemateca e afetou a preservação: parte das atividades foram interrompidas (a biblioteca e uma das salas de projeção foram fechadas), houve demissões, troca-troca de diretores (hoje é Olga Futemma, no posto desde maio) e passou-se a estudar a criação de uma OS (Organização Social) para gerir a Cinemateca.

O formato e a definição desta OS, porém, se arrasta desde a gestão Marta.

"O processo de discussão rendeu bem mais do que gostaríamos, mas o projeto já está bem desenhado", diz Ribeiro, que estima que até o meio do ano a OS pode começar a funcionar.

A figura jurídica da OS, contudo, é controversa, especialmente entre alguns setores do PT, que a veem como uma espécie de privatização da atividade pública.

"O problema é que o governo faz muito mal o acompanhamento da OS: repassa o recurso e a responsabilidade e depois não fiscaliza", diz Ribeiro, cineasta baiano que concorreu como deputado estadual pelo PT-BA.

Neste mês ainda, diz Ribeiro, começam as contratações de funcionários via uma outra organização social, a Acerp (Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto), ligada à TV Brasil. "Não gostaríamos exatamente que fosse ela, porque ela já cuida de várias outras coisas, mas vai permitir a volta da Cinemateca, ainda que de forma conservadora."

Novos funcionários, afirma, poderão ser contratados conforme a demanda de outros projetos que envolverem a Cinemateca.

NETFLIX DO BOLSA FAMÍLIA

Em Tiradentes, Pola Ribeiro também comentou os novos programas da Secretaria do Audiovisual, como o Quero Ver Cultura, programa que disponibilizará produção nacional sob demanda a beneficiários do programa Bolsa Família.

O projeto será implantado ao ritmo da entrega dos conversores de sinal digital de TV, que substituirá paulatinamente a transmissão analógica no país -as primeiras caixas já foram entregues em Rio Verde (GO), cidade escolhida para ser a primeira a ter o sinal analógico desligado.

"A gente quer uma plataforma robusta, para que o filme não tenha mais vida no mercado entre nessa plataforma", diz Ribeiro. Algumas das pastas, como a do Desenvolvimento Social encamparam o projeto. Outras, como o Ministério da Educação, ainda "não entenderam" muito o propósito. O programa será custeado com recursos do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual).

O jornalista GUILHERME GENESTRETI viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes


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