Folha de S. Paulo


Em crise, Museu de Arte Contemporânea da USP deve buscar novo diretor

Quando a artista Kátia Canton assumiu a direção do Museu de Arte Contemporânea da USP, preenchendo o vácuo deixado por Hugo Segawa, que renunciou ao cargo em novembro do ano passado, parecia que a crise envolvendo a instituição estava perto do fim. Mas os próximos meses prometem ainda mais tumulto.

Uma mudança nas regras para a eleição de dirigentes de museus da universidade determina que o MAC abra em breve um novo concurso para escolher seu diretor –Canton, que acreditava poder ficar no posto até 2018, quando terminaria o mandato de Segawa, terá de ceder seu lugar a um novo eleito ou mesmo se candidatar à vaga que já ocupa na condição de interina.

"É uma fase muito enroscada. Bem ou mal, quem está aqui no furacão sou eu", diz Canton. "Vou terminar o mandato como diretora ou vice. Todos querem que eu fique."

Marcus Leoni/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 21.01.16 16h Vamos fotografar o lugar onde sera a reserva tecnica do MAC-USP, o maior entrave ate agora para a instalacao definitiva do museu no antigo predio do Detran, algo que se arrasta ha quatro anos. (Foto: Marcus Leoni / Folhapress, ILUSTRADA)
Futura reserva técnica do MAC-USP no subsolo do museu

Nem todos. A saída de Segawa, que deixou a direção por causa de uma briga com o conselho da instituição, desencadeou uma disputa pelo comando deste que é um dos maiores museus da América Latina, com 11 mil obras, entre elas trabalhos de pintores como Picasso e Modigliani.

Na tentativa de ampliar o número de candidatos à direção, as regras da eleição foram revistas em dezembro passado. Em vez de o conselho propor uma lista de nomes ao reitor, que então tomaria uma decisão final, o novo modelo exige que candidatos a diretor e vice concorram em chapas e sejam escolhidos por um colégio eleitoral ampliado, com integrantes de fora do museu.

Martin Grossmann, antigo vice-diretor do MAC, foi o principal articulador da mudança, sinalizando interesse em se candidatar ao posto –como está deixando o comando do Instituto de Estudos Avançados da USP em fevereiro, ele então estaria livre para concorrer à direção do museu.

Nos corredores do MAC, seu nome já circula entre os funcionários como possível futuro diretor, mas ele nega a intenção de comandar o museu.

ATAQUE

"Não sou candidato, mas tenho uma preocupação com o futuro do MAC", diz Grossmann. "Tenho críticas ao modo como o museu acabou se sujeitando a uma operação endógena e que não faz jus à sua importância. Não foi o diretor que deixou o museu nessa situação. Quem criou essa situação é um conselho muito fechado e provinciano."

Seu ataque, de certa forma, reverbera a impressão que se tem do MAC em parte do circuito artístico –uma instituição lenta, isolada da cena cultural da cidade e refém de uma burocracia asfixiante.

Mesmo quatro anos depois de se mudar para sua nova sede ao lado do parque Ibirapuera, o museu não conseguiu se instalar de modo definitivo ali.

Há três dias, a reitoria da USP liberou R$ 400 mil para bancar a mudança da biblioteca do MAC da Cidade Universitária para o Ibirapuera e a reforma do primeiro andar, reservado à administração. Canton chamou a decisão de "supervitória" e saiu para comemorar com os funcionários.

Mas, sem dinheiro para realizar exposições temporárias, o MAC deve demorar para ganhar uma posição mais robusta no circuito. O plano mais ambicioso de Canton, por enquanto, é abrir até o fim do ano uma nova mostra do acervo permanente –será um circuito cronológico, com obras do século 20 ao 21 espalhadas por três andares do edifício.

"Isso é um lugar de conhecimento. Não vai haver nenhuma exposição 'megablaster' aqui", diz Canton. "Ninguém queria ser diretor, não era a carreira que eu sonhei para mim. Achei que fosse ser terrível, mas agora o MAC vai ser a referência que deve ser."

Novas eleições, no entanto, podem mudar os planos. Quando a reitoria tornar oficial a exoneração do antigo diretor, algo que deve ocorrer até março, Canton terá um mês para convocar um novo concurso. "Para a reitoria é mais importante a equipe do MAC desenhar um projeto de como vai atuar do que a pessoa física que vai ocupar a presidência", diz Vahan Agopyan, vice-reitor da USP.


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