Folha de S. Paulo


Boicote ao Oscar é 'racismo contra os brancos', diz indicada a melhor atriz

A atriz britânica Charlotte Rampling, 69, indicada ao Oscar de melhor atriz por "45 anos", disse nesta sexta-feira (22) que o protesto do diretor Spike Lee contra a falta de diversidade entre os concorrentes às estatuetas é "racista contra os brancos".

"Não dá para saber, mas talvez alguns atores negros não merecessem estar na reta final", afirmou à rádio francesa Europe 1.

A atriz também rejeitou a ideia, proposta por Lee, de estabelecer cotas a minorias na premiação. "Por que classificar as pessoas?", questionou.

Tobias Schwarz/AFP
British actress Charlotte Rampling holds the Silver Bear for Best Actress during the Closing ceremony of the 65th International Film Festival Berlinale in Berlin, on February 14, 2015. AFP PHOTO / TOBIAS SCHWARZ ORG XMIT: 4595
A atriz britânica Charlotte Rampling no Festival de Berlim, em 2015

"Sempre haverá alguém para dizer: 'Você é negro demais, branco demais, bonito demais...' Vamos classificar todos para criar minorias em toda a parte?"

Este é o segundo ano consecutivo que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas não inclui atores negros entre os concorrentes ao prêmio. Após o anúncio da lista de nomeados deste ano, a hashtag #OscarsStillSoWhite (Oscar ainda muito branco) começou a circular na internet.

O movimento ganhou força quando Lee ("Malcom X", "Faça a Coisa Certa", ambos sobre conflitos raciais nos EUA) anunciou, em um texto publicado no Facebook na segunda (18), que não irá à premiação em 28 de fevereiro. "Nós não podemos apoiar isso", escreveu.

No "Good Morning America", o cineasta, que recebeu um Oscar honorário em novembro do ano passado, negou nesta quarta (20) ter convocado um boicote à cerimônia. Mas sua atitude ecoou entre os membros da mais poderosa indústria cinematográfica do mundo e, desde o início da semana, outras estrelas têm demonstrado apoio ao protesto.

Will Smith, que era cotado a uma indicação por "Um Homem entre Gigantes" mas não entrou na lista, se juntou a sua mulher, Jada Pinkett, e ao diretor de documentários Michael Moore ao optar por também não comparecer à cerimônia.

Mark Ruffalo, que concorre na categoria melhor ator coadjuvante por "Spotlight", e George Clooney, vencedor de dois Oscar, declararam apoio à iniciativa, apesar de não anunciarem boicote.

A presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA, Cheryl Boone Isaacs, que é negra, se disse "triste e frustrada" pela situação, em um comunicado divulgado na terça (19).


Endereço da página:

Links no texto: