Edgard Scandurra sempre foi um músico aberto a projetos em colaborações. O guitarrista do Ira! apresenta neste sábado (23) o mais recente, ao lado da cantora Silvia Tape.
O show no Sesc Belenzinho vai mostrar as canções serenas de "EST", o álbum recém-lançado. Ainda um disco de rock, mas com um pegada low-fi, tranquila. Talvez um jeito de fazer rock "adulto"?
"Acho essa definição bacana", diz Scandurra à Folha, dando entrevista em casa. "Nesse tempo todo de Ira!, o público se mantém na mesma faixa etária, vai se renovando, é música para adolescente. Mas a vivência da gente influi, você começa a procurar uma coisa para a sua idade."
| Eduardo Anizelli/Folhapress | ||
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| Silvia Tape e Edgard Scandurra, que lançam juntos o álbum 'EST', na sacada de seu apartamento em SP |
A atmosfera do álbum muda de intensidade, da balada ao trip hop. Algo que vai de Serge Gainsbourg (grande fixação de Scandurra) a Portishead.
As músicas nasceram em dias passados na praia. Na maioria das vezes, o guitarrista trabalhava as melodias, depois passava para Silvia colocar letras. "Para criar um disco assim só mesmo fora de São Paulo", diz Scandurra, apontando para a janela do apartamento, que deixa entrar a barulheira de uma das esquinas mais movimentadas da Vila Madalena.
O ritmo de composição foi rápido. "Quase uma música por noite lá na praia", conta o músico. Tudo gravado direto no microfone, com o aplicativo GarageBand. A dupla conta que as fitas demo têm sons de chuva, barulho dos cachorros e das crianças, um assobio de Silvia que caminhava perto do microfone -e que entrou no disco.
"Sabia que seria um caminho mais suave, algo que deixei parado desde os tempos do Smack", explica Scandurra, se referindo a uma das muitas bandas das quais participou nos anos 1980, antes do estouro do Ira! no mercado.
A lista de colaborações simultâneas naquela época é longa, em grupos como Ultraje a Rigor, Smack, Voluntários da Pátria e Mercenárias. Este último é um elo entre Scandurra e Silvia. Ele tocava bateria na banda há 30 anos, hoje ela é vocalista na versão rediviva das Mercenárias.
Entre outros motivos, a dupla se aproximou por gostar dos mesmos artistas. "Ela conhecia até o Solano Star, um projeto meio maldito que fiz e só teve um disco", conta ele. "Eu ouvia lá em Piracicaba", emenda Silvia.
A cantora fala do repertório do shows. "Tocamos o disco, claro, uma música nova, um cover do David Lynch e uma música do meu trabalho solo. A banda que os acompanha terá Lucinha Turnbull, figurinha carimbada do rock nacional desde as parcerias com Rita Lee nos anos 1970, vai cantar e tocar uma segunda guitarra. O grupo se completa com Carlinhos Mazzoni (bateria), André Lima (teclados) e, no baixo, Thadeu Meneghini, do Vespas Mandarinas.
A presença de Thadeu reforça a ideia de Edgard sobre a existência de uma cena forte na música independente atual. "Ainda não houve um registro disso, nenhum lugar de shows ou um festival surgiu para reunir essa galera, mas está rolando uma cena, que talvez passe sem ser reconhecida como tal."
No lugar de bandas que se identificavam por questões de estilo, ele enxerga uma cena de nomes isolados, mas que trabalham em constante colaboração, uns tocando nos projetos dos outros. Edgard lista gente como Karina Buhr, Cidadão Instigado, Bárbara Eugênia, Filipe Catto, Tatá Aeroplano e Naná Rizzini.
"Não há tanta banda, é mais nome próprio, sabe? Tulipa Ruiz e Marcelo Jeneci, por exemplo, já bombaram. O público é jovem, mas diferente daquele que seguia o rock antigamente. São jovens, ligados em MPB também. Aquele tipo, de barbinha, meio hipster", diz Edgard.
O álbum "EST" pode ser baixado gratuitamente no site www.tapescandurra.com.
SILVIA TAPE & EDGARD SCANDURRA
QUANDO sábado (23), às 21h
ONDE Sesc Belenzinho, r. Padre Adelino, 1.000, tel. (11) 2076-9700
QUANTO de R$ 7,50 a R$ 25
CLASSIFICAÇÃO 12 anos