Folha de S. Paulo


Thiago Fragoso vive carrasco nazista em versão do livro 'As Benevolentes'

"No meu lugar, você teria feito o que eu fiz", garante o oficial nazista Maximilien Aue em uma das cenas de "As Benevolentes – Uma Anatomia do Mal", que estreia nesta sexta (22) em São Paulo.

Responsável por uma série de torturas e assassinatos durante o Holocausto, o carrasco é a figura central do livro "As Benevolentes", lançado em 2006 pelo escritor franco-americano Jonathan Littell.

Best-seller na Europa e vencedora do prêmio Goncourt, na França, a obra chegou a ser comparada ao clássico "Guerra e Paz", de Tolstói, pelo jornal francês "Le Monde".

Lenise Pinheiro/Folhapress
Sao paulo, SP, Brasil. Data 18-01-2016. Espetaculo As Benevolentes. Ator Thiago Fragoso. Teatro da Hebraica. Foto Lenise Pinheiro/Folhapress
Thiago Fragoso interpreta o oficial nazista Maximilien Aue no espetáculo teatral "As Benevolentes"

Agora, os relatos frios e cruéis desse oficial que agia a mando de Hitler –e que não demonstra qualquer arrependimento por seus atos– chegam pela primeira vez a um teatro brasileiro. O monólogo tem direção de Ulysses Cruz (que recentemente encenou a peça "O Camareiro", com Tarcísio Meira) e atuação de Thiago Fragoso.

"A gente não está fazendo um dramalhão, algo para que as pessoas sofram.
A ideia é causar um embasbacamento, um choque e uma irritação com as provocações que o personagem faz", diz o ator, que pela primeira vez na carreira está sozinho em cena. "Eu não tenho problema em lidar com responsabilidade, gosto de desafios."

Ulysses levou anos até tirar esse projeto do papel —o desejo existe desde quando ele leu o livro, em 2007. De lá para cá, foram analisadas várias adaptações até que se chegasse à versão de Valderez Cardoso Gomes, que também assina a tradução. O espetáculo se concentra no primeiro capítulo da obra e pinça outros bons trechos do romance, que tem mais de 900 páginas.

VIOLÊNCIA

"A gente não está fazendo uma peça sobre a história do Holocausto", enfatiza o diretor. "É para repercutir isso no mundo de hoje. A violência do nosso tempo é absolutamente explícita e tão cruel quanto foi naquela época."

Sem muitos elementos em cena, têm forte presença a iluminação (de Caetano Vilela) e a sonoplastia (de Laércio Salles) do espetáculo. As luzes e os sons dialogam com a atuação de Fragoso —que buscou expressões vigorosas na atuação. "Tudo foi feito para criar tensão, porque é um tema terrível, né?", diz Ulysses, que conta com Leonardo Bertholini na assistência de direção.

Carioca de 34 anos, Fragoso já vem pegando a ponte aérea desde o mês passado para os ensaios em São Paulo. Ele conta que passa horas por dia treinando os movimentos em cena, a sincronia com as marcações de luz e os tons de voz de cada trecho.

"Eu estou com o pé todo machucado, tem esparadrapo para tudo que é lado", diz o artista, que atua descalço "em um palquinho que tem uns 25 buracos", segundo suas contas —para a cenografia, Veronica Valle criou um chão que se desmonta. "Sangue, suor e lágrimas, isso é o melhor que eu posso fazer agora", brinca. "Mas isso me dá mais motivação."

AS BENEVOLENTES - UMA ANATOMIA DO MAL
QUANDO sex., às 21h30, sáb., às 21h, dom., às 18h; até 28/2
ONDE Hebraica -Teatro Arthur Rubinstein, r. Hungria, 1.000, tel. (11) 3818-8888.
QUANTO R$ 60 e R$ 80
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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