Folha de S. Paulo


Grande celeiro de jovens artistas, Paço das Artes será despejado em março

Uma vez encerradas as mostras que inaugura no fim deste mês, o Paço das Artes, centro cultural que funciona há 22 anos dentro da Cidade Universitária, será fechado.

No fim de março, a programação da instituição deve migrar para o Museu da Imagem e do Som e para a Oficina Cultural Oswald de Andrade, no Bom Retiro, centro da cidade.

Fora da USP, o destino do Paço, responsável por lançar nomes de peso na arte contemporânea e um dos maiores centros de experimentação estética do país, é incerto.

Erico Marmiroli/Divulgação
Obra de Carmela Gross em frente ao Paço das Artes, por Foto: Erico Marmiroli/Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Obra de Carmela Gross em frente ao Paço das Artes

Sua sede na Cidade Universitária será devolvida ao Instituto Butantan, dono do imóvel, que agora pretende usar o espaço para ampliar sua fábrica de vacinas contra a dengue —segundo a Folha apurou, a Secretaria de Estado da Saúde, responsável pelo Butantan, vem pedindo seu prédio de volta há pelo menos cinco anos.

Esse desfecho repentino, de acordo com pessoas próximas às negociações, tem a ver com a pressa do Ministério da Saúde em garantir uma alternativa nacional de imunização contra a dengue. O Butantan fornecerá essas vacinas para o órgão federal.

Fundado em 1970, o Paço das Artes nunca teve sede definitiva, já tendo ocupado espaços na avenida Paulista, na Pinacoteca do Estado e no Museu da Imagem e do Som —até hoje, o centro cultural faz parte da mesma organização social responsável pelo MIS, dirigido por André Sturm.

"Estamos tentando conseguir outra sede [para o Paço]", diz Sturm. "No médio prazo, vamos transferir a programação, mas o museu vai continuar operando."

Locais alternativos estão sendo procurados agora pela Secretaria de Estado da Cultura, responsável pelo MIS e pelo Paço, para abrigar a série de mostras que estavam marcadas para ocorrer neste ano no espaço da Cidade Universitária. A última exposição a ser realizada ali será a do videoartista alemão Harun Farocki, com abertura marcada para 28 de janeiro.

Quando acabar essa mostra, em 27 de março, as atividades programadas vão se dividir entre o MIS, que receberá a Temporada de Projetos, tradicional programa responsável pelo lançamento de jovens artistas, e a Oswald de Andrade, que vai abrigar uma grande exposição de Lenora de Barros, que estava marcada para abril no Paço.

"Isso tudo é temporário, o que tem de concreto agora é que o Paço vai desenvolver suas atividades em outros equipamentos", diz Priscila Arantes, diretora artística do centro cultural. "Eu acho que essa é uma oportunidade de o Paço ter uma sede definitiva. É isso que ele merece."

Mesmo ocupando um prédio inacabado, o Paço das Artes realizou na última década algumas mostras marcantes na história recente da cidade, entre elas individuais do artista chinês Yang Fudong, da suíça Pipilotti Rist e do britânico Francis Bacon.

Também tornou mais conhecida a obra de jovens artistas, como Rodrigo Bivar, Ivan Grilo, Cristiano Lenhardt, Marcelo Moscheta, Henrique Oliveira, Regina Parra e Roberto Winter, além de lançar jovens curadores, como Felipe Scovino e Luiza Proença.

Na esteira do despejo do Paço das Artes, o orçamento de R$ 15 milhões destinado ao MIS e ao Paço no ano passado também deverá sofrer um corte de 10%, embora a decisão de fechar o centro cultural na Cidade Universitária tenha sido confirmada antes da decisão do corte.


Endereço da página: