Folha de S. Paulo


Diretor de brasileiro no Oscar vê 'Divertida Mente' como seu 'Golias'

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O paulistano Alê Abreu, 44, não sabe se foi o "banho de lavanda" do Ano-Novo, mas acordou na quarta (13) com "uma intuição": o que antes parecia um milagre –calculava ter "uns 5%" de chance– estava fadado a acontecer.

Assim foi: na madrugada seguinte, o diretor de animação que começou na área aos 11 anos, como estagiário de Mauricio de Sousa, foi indicado ao Oscar de melhor animação por "O Menino e o Mundo".

Marcus Leoni / Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 15.01.16 11h Entrevista coletiva com Ale Abreu, diretor da animação brasileira indicada ao Oscar. (Foto: Marcus Leoni / Folhapress, ILUSTRADA)
O paulistano Alê Abreu, 44, diretor de 'O Menino e o Mundo', animação brasileira indicada ao Oscar

Agora, diz Alê em entrevista coletiva na sexta (15), é "Davi contra Golias". "Divertida Mente", dito favorito entre os cinco candidatos, é "carta marcada". "Mas nunca se sabe Será o menino de US$ 500 mil contra o gigante de US$ 175 milhões, diz, comparando o orçamento de seu filme como o da Pixar ("que é bom, mas não ótimo").

Seu filme concorre com "Divertida Mente", "Anomalisa", "Shaun, o Carneiro" e "Quando Estou com Marnie".

Alê tem um problema com a "padronização" dos filmes animados. "Todos parecem saídos da mesma produtora. Não acho que essa cara plástica vá durar muito tempo. E em breve até a estética independente vai virar mainstream."

"Não é uma postura política", diz à Folha. Não cita produção "x" ou "y", mas a crítica a filmes Pixar/Disney é fosforescente. "Às vezes assisto no avião, mas enjoei. O que a animação tem de mais legal é a diversidade de técnicas."

Com Emicida na trilha sonora e técnica que mistura giz de cera e caneta Bic, "O Menino e o Mundo" tem como protagonista um garotinho similar àquele boneco palito que fazemos ao aprender a desenhar.

Ele perambula por um mundo fantástico, com duas luas, atrás do pai, que partiu num trem à procura de emprego.

A animação nasceu da paixão de Alê por músicas de protesto latino-americanas, como as de Violeta Parra. O libelo político está por toda obra –o menino sai de seu jardim para conhecer um mundo de desigualdades e tanques de guerra.

Quase não há falas no filme, e as quem tem são em português invertido ("menino", por exemplo, é falado "oninem").

Com essa linguagem artesanal e politizada, "O Menino e o Mundo" colheu 44 prêmios internacionais, incluindo troféus de júri e público no Festival de Annecy, o mais importante da animação, em 2014. No ano anterior, outro brasileiro venceu a categoria principal: "Uma História de Amor e Fúria", de Luiz Bolognesi –parceiro em projetos futuros de Alê.

A acolhida da crítica ao "Menino" foi entusiasmada. A revista "Variety" comparou o estilo de Alê ao do pintor espanhol Joan Miró –uma inspiração confessa, assim a banda islandesa Sigur Rós, que escutava enquanto desenhava seu menino.

O filme vai virar também série animada na França, pelas mãos da mesma produtora de "As Bicicletas de Belleville". Cenas do "Menino" serão mescladas com um documentário sobre trajetos de cinco crianças para chegar à escola.

Sua próxima animação, "Viajantes do Bosque Encantado", tem algo de "Palestina e Israel", diz.

Será sobre duas "crianças-bicho" perdidas numa floresta. Elas vêm de reinos inimigos, o do sol e o da lua, e têm que se juntar para enfrentar inimigos mortais, como "alienígenas e gigantes perigosíssimos".

Alê pode caprichar na pose "anti-indústria", mas garante que vai se esforçar e fazer "guerrilha em Hollywood" para não entregar o Oscar de bandeja aos grandes estúdios.

Isso inclui bater perna por estúdios e bajular membros da Academia (a distribuidora da produção lá fora, a GKids, já lhe deu uma lista de eventos a ir e pessoas para falar).

Claro que nenhum lobby estaria completo sem as festas de Los Angeles.

Na última que foi, um dos criadores dos "Simpsons" apareceu tocando um trombone que expelia fogo, entre diretores de "Rei Leão" e "Pequena Sereia". Esse dia foi louco.

Exibições especiais de 'O Menino e o Mundo'

>> Cine Parque
exibição gratuita ao ar livre no domingo 24/1 (19h30), na Cinemateca (lgo. Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino, tel: 11-3512-6111).

>> Festival Buster on Tour
nos dias 20/1 (14h30) e 30/1 (17h), no Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, Centro, tel. 11-3113-3651); R$ 2


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