Folha de S. Paulo


Cineastas assinam carta em apoio a diretor iraniano condenado a prisão

Mais de 600 pessoas, entre elas diretores e profissionais do cinema, assinaram uma carta em apoio ao realizador iraniano Keywan Karimi, condenado em primeira instância em Teerã a seis anos de prisão e 223 chibatadas em outubro.

Karimi é mais conhecido internacionalmente pelo curta-metragem "The Adventure of Married Couple", que acompanha a rotina de um casal que trabalha em turnos alternados.

Muçulmano sunita originário do Curdistão iraniano, o cineasta foi condenado por cenas de um videoclipe e do filme "Escrevendo na Cidade", dedicado ao grafite político feito em paredes e muros de Teerã desde a Revolução Islâmica de 1979 até as controversas eleições de 2009, que deram início a protestos reprimidos com violência.

Segundo o site "The Huffington Post", Muhammad Moghise, juiz que presidiu o julgamento de Karimi, o cineasta insultou os valores sagrados do Irã e promoveu relações e contatos ilegítimos através de cenas de beijo.

"Eu não sei o que aconteceu para que eu devesse ficar na prisão por seis anos", declarou Karimi à agência de notícias Associated Press. "Eu falo sobre o governo, sobre a sociedade, sobre grafite, sobre trabalhadores."

Amir Raisyan, advogado de Karimi, afirmou que o diretor recebeu a punição severa por uma cena que desejava gravar, mas que não se concretizou.

"Ele queria filmar uma cena, mas ela não aconteceu, pois ele não chegou a um acordo com a atriz", declarou à imprensa local. "Dissemos à corte que o trecho que não gravado, e que você não pode punir alguém por algo que não houve."

Na carta dirigida ao chefe da autoridade judicial iraniana, o aiatolá Sadegh Larijani, e assinada pela "comunidade internacional de cineastas", os diretores solidários ao cineasta exigem "a anulação imediata de todas as penas decretadas contra Karimi, com o objetivo de que possa continuar trabalhando sem medo".

Entre os signatários da solicitação estão o diretor mauritano Abderrahman Sissako, ganhador de sete prêmios César na França pelo filme "Timbuktu", o cambojano Rithy Panh, a belga Delphine Noels, assim como seus colegas franceses Claude Lanzmann, Dominik Moll, Jean-Jacques Beineix, Julie Bertucelli, Nicolas Philibert, Michel Ocelot e Pascale Ferran, entre outros.

Em dezembro passado, 130 cineastas iranianos já tinham lançado uma carta de apoio a Karimi, antes que se examinasse sua apelação.

Como Karimi, o cineasta Jafar Panahi também sofre repressão do governo iraniano. O diretor foi condenado a seis anos de prisão domiciliar em 2010 por denegrir a imagem do governo do então presidente Mahmoud Ahmadinejad. Proibido por duas décadas de deixar o país, escrever roteiros, produzir filmes e conceder entrevistas, ele já assinou três longas à revelia do veto governamental.


Endereço da página:

Links no texto: