Folha de S. Paulo


Filme não romantiza o jornalismo, diz repórter retratado em 'Spotlight'

Spotlight

O jornalista Mike Rezendes se sentiu como muitos de seus entrevistados em um de seus primeiros encontros com o ator Mark Ruffalo. "Ele veio até a minha casa, me encheu de perguntas e começou a digitar tudo o que eu respondia", conta à Folha o repórter investigativo.

Ruffalo vive Rezendes em "Spotlight –Segredos Revelados", que estreia nesta quinta (7) contando os bastidores da cobertura jornalística que desbaratou um esquema de de casos de abuso sexual cometidos por padres e acobertados pela Igreja Católica.

"A montagem e a trilha tornam tudo mais empolgante, mas o filme tem o mérito de não romantizar o jornalismo que fazemos: ele mostra como uma investigação pode ser entediante", diz, por telefone.

Rezendes, que ajudou no filme desde a etapa do roteiro, venceu o prêmio Pulitzer em 2003 pela cobertura do caso, compartilhado com a equipe do jornal "The Boston Globe" que trouxe o caso à tona.

"O poder político da igreja em Boston diminuiu depois das reportagens", diz o jornalista, de formação católica. "Antes, padres eram dispensados da obrigação legal de ter de reportar abusos sexuais. Hoje, a lei estadual mudou."

Walter "Robby" Robinson, também ajudou a produção: "Os atores queriam imitar a forma como andávamos. Queriam saber até onde ficavam os telefones", diz o jornalista.

Robby chefiava a equipe Spotlight de repórteres investigativos na época do caso.

Desde então, no começo dos anos 2000, a Redação do "Globe" diminuiu, devido às transformações no mercado jornalístico –eram 500 jornalistas, hoje são cerca de 300. Já a equipe Spotlight foi de quatro para seis pessoas.

"É caro mantê-la, mas seria estúpido cortá-la. Os leitores sentem a diferença", afirma Robby, interpretado no filme por Michael Keaton.

Rezendes concorda: "A democracia não funciona sem o jornalismo investigativo", afirma o repórter, que continua trabalhando no "Globe" e se diz entusiasmado com experimentos do gênero em sites como "The Intercept".

Para ele, o filme pode lançar um alerta sobre a importância da função. Robby é cético quanto ao alcance: "O tipo de público desse filme é mais velho, já consciente disso e leitor dos jornais impressos. De qualquer forma, a receita tem mais a ver com anunciantes do que com os leitores."


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