Folha de S. Paulo


Morre, aos 90 anos, o maestro e compositor francês Pierre Boulez

O maestro e compositor francês Pierre Boulez, uma das mais proeminentes personalidades da música experimental na segunda metade do século 20, morreu nesta quarta (6), aos 90 anos, em sua casa em Baden-Baden, na Alemanha. A causa da morte não foi informada.

Nascido na cidadezinha de Montbrison, nas cercanias de Lyon, em 1925, Boulez estudou matemática e, a seguir, transferiu-se para o Conservatório de Paris, onde, diz a lenda, foi um dos mais introspectivos e brilhantes estudantes.

No pós-guerra, ele integrou um grupo de compositores reunidos em torno do também francês Olivier Messiaen (1908-92), que procurava superar o impasse a que havia chegado a música de vanguarda da Escola de Viena.

Trabalharam na mesma direção, na cidade alemã de Darmstad, nomes que se tornariam monumentos da música contemporânea, como o alemão Karlheinz Stockhausen, o greco-francês Iannis Xenakis e o italiano Luigi Nono.

Datam a partir de então peças fundamentais para a formação de uma nova linguagem para composições, que o público mais tradicional considerava pouco compreensível, por não fincar raízes em frases melódicas definidas.

Entre as mais conhecidas composições de Boulez estão "Le Marteau sans Maître", de 1954, e "Pli Selon Pli", de 1957.

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Ele também passou a se dedicar à regência, impondo-se com um estilo que deixava transparecer, mesmo em repertórios românticos (Brahms ou Berlioz) ou do século 20 (sobretudo Stravinsky e Bartok), uma visão extremamente racional sobre a organização dos sons.

Boulez foi a antítese dos maestros excessivamente adocicados, que procuraram, como Zubin Mehta, obter reações emocionais da plateia.

A leitura de Boulez foi revolucionária na medida em que os motivos temáticos com que Richard Wagner construía suas óperas —nele não havia mais separação em árias, duetos, trechos fundamentalmente orquestrais— eram vistos como sinalizações para que se aumentasse ou diminuísse a velocidade com que a música se desenvolvia em cena.

Sua reputação como regente o colocou em pé de igualdade com grandes nomes dos anos 1960 a 90, como Karajan, Georg Solti ou Claudio Abbado. Foi diretor musical da Sinfônica da BBC e da Filarmônica de NY, apresentando-se também como frequente maestro-convidado em orquestras como a de Cleveland ou na Filarmônica de Berlim.

Era também um maestro idiossincrático. Da mesma maneira com que demonstrava verdadeira adoração pelas sinfonias de Gustav Mahler, tinha horror pela produção de Tchaikovsky, a quem considerava um amador bem-sucedido, capaz de cometer sucessivos erros de harmonia.

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Solteirão, visivelmente "casado com a música", Boulez foi também o autor de projetos de imensa importância musical, como o Ircam, instituto dedicado à música experimental, e a Cité de la Musique, um conservatório e centro de criação para música de câmara.

Partiu também dele o projeto de criação da Philharmonie de Paris, uma orquestra sinfônica e também um centro de pesquisas centrado nas formas de interpretação.


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