Folha de S. Paulo


Prestigiado por Chico Buarque, sambista da Lapa lança álbum autoral

Deve haver, entre os espectadores do filme "Chico - Artista Brasileiro", de Miguel Faria Jr., quem se surpreenda com o cantor que interpreta "Mambembe" no filme. Moyseis Marques ainda é desconhecido para muita gente, embora seu prestígio no meio musical não pare de crescer.

Seu quinto disco, "Made in Brasil", é um EP (extended play) com apenas seis faixas –embrião de um futuro DVD. Mas flagra o sambista num momento especial, no qual a presença de Chico Buarque é marcante.

MALANDRO

Moyseis foi protagonista da versão do diretor João Falcão para "Ópera do Malandro", musical de Chico. E, em maio passado, ganhou do compositor uma canja em show que fazia no Semente, pequena casa na Lapa carioca. Dividiram "Aquela Mulher" e "Injuriado".

Erensto Rodrigues/Folhapress
O ator e sambista Moyseis Marques (de branco) em ensaio do musical
O ator e sambista Moyseis Marques (de branco) em ensaio do musical 'Ópera do Malandro'

"Nós, que surgimos na Lapa, já fomos tratados como se fizéssemos samba elitista, só para a zona sul do Rio. Então, é difícil tocarmos no rádio, termos divulgação. Aí o cara [Chico Buarque] vai a um bar sem pompa e circunstância, reserva mesa, leva a família. Estava mesmo interessado", diz Moyseis.

A temporada no Semente, às terças-feiras, serviu para o cantor testar músicas novas. Ele é, cada vez mais, compositor. As seis faixas do EP são suas. A que dá título ao trabalho passeia por samba, forró, ijexá, jazz e rock.

"A música podia se chamar 'Deixa Eu Cantar o que Quiser'", brinca o músico. "É claro que o samba é meu dom e sempre será. Visto o manto de sambista sem problemas, mas também tenho outras vontades."

Mineiro de Juiz de Fora, crescido no subúrbio carioca da Vila da Penha, Moyseis tem 36 anos e vive de música desde os 19. Já integrou grupos de forró, mas se fez conhecido no Rio como intérprete de sambas.

OUTRO LANCE

Hoje, sente-se mais seguro para apresentar composições de outros gêneros, como o ijexá "A Barca dos Corações Partidos" (parceria com Bena Lobo) e o xote "Madeixa" (com Vidal Assis).

Mas o samba predomina no EP. Está em "Profissional" (letra de Nei Lopes), "Juntando Cacos" (cantado por Laila Garin, que também participa do documentário "Chico - Artista Brasileiro") e "Poeta É Outro Lance", em que ele diz: "Eu não sou Chico Buarque, nem Paulo Pinheiro, nem Nei nem Aldir/ Mas tenho a minha arte e uma pequena parte pra contribuir".

"Essa frase, 'Pra cantar tu leva jeito, mas poeta é outro lance', foi dita por um amigo que estava compondo comigo na minha casa, bebendo do meu uísque, e ela me pegou de mau jeito. Vendem frustração o tempo todo e, dependendo do momento, a gente compra. Saí dessa compondo o samba", conta ele.

"Mambembe" tem lhe rendido repercussão semelhante à de "Disritmia", samba de Martinho da Vila que cantou no programa "Som Brasil", da Globo, em 2009, em versão que permanece fazendo sucesso no YouTube.

LUIZ FERNANDO VIANNA é autor de "Aldir Blanc - Resposta ao Tempo" (Casa da Palavra).

MADE IN BRASIL
ARTISTA Moyseis Marques
GRAVADORA Sarau
QUANTO R$ 25


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