Folha de S. Paulo


Com 43 anos de carreira desbundada, Maria Alcina lança seu primeiro DVD

Maria Alcina, uma das artistas mais imagéticas do pop nacional, virava a cara quando se deparava com sua imagem numa tela. "Não gostava de me ver. Eu falava para mim mesma: 'deixa amadurecer'", diz ela, franzindo as sobrancelhas cobertas por purpurina azul. "Mas a gente aprende." E, aos 66 anos, ela está madura o suficiente para se ver no primeiro DVD de sua carreira.

"De Normal Bastam os Outros", verso que ela emprestou de Arnaldo Antunes para nomear o trabalho, gravado no Auditório Ibirapuera, marca a volta da desbundada artista. E, no primeiro registro completo de seu show, ela vem como um azougue embalado de paetês multicoloridos, derramando purpurina e balançando penas.

Uma trajetória similar à da mineira de Cataguases, que teve sua apoteose num Maracanãzinho lotado, no Festival Internacional da Canção de 1972. Defendeu "Fio Maravilha", com calças bufantes prateadas e dançando com movimentos espasmódicos que não fariam feio a um bonecão de posto. Ganhou.

Joel Silva - 7.dez.2015/Folhapress
SAO PAULO, SP BRASIL-07-12- 2015 : A cantora Maria Alcina tira fotos com fas na Al Porto Geral, regiao central de Sao Paulo. cantora comemora 40 anos de carreira lançando seu primeiro.. ( Foto: Joel Silva/ Folhapress ) ***ILUSTRADA *** ( ***EXCLUSIVO FOLHA***)
A cantora Maria Alcina tira fotos com fãs na alameda Porto Geral, região central de São Paulo

O duplo sentido foi a via única da artista para o sucesso. Ela cantava fados, tangos, polcas e modinhas. Mas, depois da explosão, foram as músicas do pastoril, repletas de ambiguidades, que a popularizaram.

É o caso de "Calor na Bacurinha", que já apresentou vestindo um macacão com o traseiro de fora e um onipresente leque de plumas para abanar seus países baixos. Após desfrutar o sucesso de uma das cantoras mais vendidas do país, ela se voltou à TV.

Foi jurada dos programas do Bolinha, do Raul Gil e do Ed Banana. Mas não pensa em retomar o ofício de julgar cantores diletantes. "Eu, hein!? O pessoal hoje é muito bom. Se eu fosse jurada nesse 'The Voice' e chegassem cantando daquele jeito, profissional, eu saía correndo. A amadora sou eu!"

Alcina veio para São Paulo na década de 1980 "porque precisava me distanciar de coisas ruins, pessoais e profissionais, que estavam acontecendo no Rio". Passou 20 anos fazendo shows em circos, festas de fruta e boates do interior.

Desde que encontrou Guilherme Rodrigues, estilista que ajudou Gabi Amarantos a dar forma aos seus delírios de luzes neon, empreendeu uma volta ao passado. Hoje pensa em refazer figurinos do passado, como o turbante que é formado por duas mãos, uma delas segurando um cigarro e a outra, um drinque.

O retorno veio cerca de dez anos atrás, quando a música eletrônica a descobriu. Gravou com artistas como Bojo e, mais recentemente, o duo Tetine, antes de se associar ao produtor Thiago Marques Luiz.

Joel Silva - 7.dez.2015/Folhapress
SAO PAULO, SP BRASIL-07-12- 2015 : A cantora Maria Alcina tira fotos com fas na Al Porto Geral, regiao central de Sao Paulo. cantora comemora 40 anos de carreira lançando seu primeiro.. ( Foto: Joel Silva/ Folhapress ) ***ILUSTRADA *** ( ***EXCLUSIVO FOLHA***)
A cantora Maria Alcina comemora aniversário de carreira lançando seu primeiro DVD

Foi Luiz que compôs o repertório do show, com pontas de lança da nova geração, como Felipe Cordeiro, Karina Buhr e Anastácia, e camafeus do naipe de Adoniran Barbosa ("Dondoca"), João Bosco e Aldir Blanc ("O Chefão").

Os mitos estão no palco. Ney Matogrosso aparece gargalhando às lágrimas enquanto grava com Alcina, que explica o que é um bigurrilho, nome da música que compartilharam –segundo o "Michaelis", um "político acomodatício que, em qualquer partido, sempre faz o papel de situacionista".

Ex-operária de chão de fábrica, diz ainda ver o mundo a partir da porta dos fundos. "Se bem que Porta dos Fundos é ótimo hoje em dia, né? É estar por cima", ri, se referindo à trupe de humor que acumula o maior número de assinantes no YouTube no país.

Quarenta e três anos de palco não foram suficientes para baixar o calor na bacurinha de Maria Alcina. "Ai, como eu adoro!", diz ela, na ladeira Porto Geral, abanando o entrepernas com o vestido de paetês enquanto é cercada por populares que queriam uma selfie, um beijo, um remelexo.

DE NORMAL BASTAM OS OUTROS (DVD)
ARTISTA Maria Alcina
LANÇAMENTO Eldorado
QUANTO R$ 25, em média


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