Folha de S. Paulo


Vik Muniz mede peso do tempo em catálogo completo de sua obra

Em seu ateliê na Gávea, no Rio, Vik Muniz, 53, retira o relógio da parede e sugere a foto. "Que tal assim, carregando o peso do tempo?", diz, fingindo esforço ao segurar o objeto que cobre parte do seu corpo.

A brincadeira é porque ele acaba de lançar "Tudo Até Agora", livro com sua produção entre 1987 e 2015. Este, sim, difícil de carregar. Reunidos em uma caixa, os dois volumes somam mais de 900 páginas e pesam 7,41 kg –são 29 anos de carreira, 1.400 obras, entre desenhos, esculturas e fotos.

O novo catálogo raisonné (compilação de todos os trabalhos de um artista) atualiza um anterior, de 2009, com a produção dos últimos seis anos. A vontade de organizar a trajetória veio ao perceber que algumas das criações se perderam na memória.

Ricardo Borges/Folhapress
rio de Janeiro, RJ,BRASIL, 27/11/2015; Retrato do artista plastico, Vik Muniz em sua galeria na gavea. (Foto: Ricardo Borges/Folhapress. ) *** EXCLUSIVO FOLHA***
O artista plástico Vik Muniz em seu ateliê, na Gávea, no Rio

Para Vik, o livro é como um mapa que o ajudou a entender seu processo criativo. A publicação foi organizada enquanto o artista buscava respostas para o que é a arte. Ele não sabia bem o que responder. Aos 53, diz que encontrou uma resposta que o satisfaz: é a "evolução da interface entre mente e matéria".

Ainda reclama, no entanto, da "forma simplista" que se referem a ele, como o "artista que utiliza materiais não ortodoxos". "Qual é o artista que não utiliza?", questiona.

A definição se justifica pelo fato de Vik, que iniciou sua carreira no campo escultórico, ter se tornado conhecido pela produção de séries fotográficas nas quais registrava a criação de peças realizadas com chocolate, diamantes, sucata, algodão e caviar.

Em "Crianças de Açúcar" (1996), um de seus trabalhos mais conhecidos, ele utilizou o açúcar para desenhar. Mas o artista afirma que o material pouco lhe importa, sua ideia é explorar os processos.

O uso de ícones como "Mona Lisa", retratada em 1999 com pasta de amendoim, manteiga e gelatina, é, segundo ele, uma forma de fazer com que as pessoas reconheçam a referência de imediato e centrem o olhar no que possibilitou a sua produção.

Vik diz que um livro do tamanho de "Tudo Até Agora" chega a ser amedrontador. "Dá até vontade de não produzir mais", ele ri. "Fico com medo de definir muito o trabalho. É bom não ter certeza do que eu estou fazendo."

VERSOS

A declaração vem antes de listar as peças que desenvolve atualmente. Ele prepara uma exposição em Haia, na Holanda, com obras em que reproduz o verso de telas famosas, como "Lição de Anatomia" (1632), de Rembrandt. Pensa em desdobrar esse processo em livro e um documentário.

Está desenvolvendo fotografias hiper-realistas para a série "Perfect Strangers", que deve ocupar em 2016 uma estação de metrô em Nova York. E começa a colocar em prática sua ideia de registrar, em uma fração de segundo, a atuação de atores como Tilda Swinton e Willen Dafoe.

Vik quase se esquece da maior retrospectiva de sua carreira, que ocorrerá no início de 2016, no High Museum, em Atlanta. Parece que o medo é da boca para fora.

TUDO ATÉ AGORA
EDITORA Capivara
AUTOR Vik Muniz
QUANTO R$ 270 (920 págs.)


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