Folha de S. Paulo


Guilherme Zaiden, primeiro youtuber brasileiro, volta à ativa após 9 anos

Retorno do Zaiden

Nove anos depois de publicar "Confissões de um EMO", Guilherme Zaiden, o primeiro youtuber do Brasil, resolveu voltar a fazer vídeos.

Quem não lembra quem é Zaiden não precisa se sentir antiquado. Se hoje um bilhão de pessoas acessam o YouTube todo mês, na época o site tinha apenas 50 milhões de usuários, pouco mais de dois milhões no Brasil.

Foi nesse contexto que os primeiros vlogs pipocaram nos Estados Unidos e, no Brasil, Zaiden estourou com seus personagens: um viciado em Orkut, um pastor preconceituoso e um emo, bem ao espírito do tempo da metade dos anos 2000.

"Dessas pessoas com uma câmera na mão, de ficar no próprio quarto falando que nem um louco, acho que eu era o primeiro naquela época, mesmo", relembra o ator de 27 anos, em entrevista à Folha. Quando seus vídeos viralizaram, ele tinha 18 anos e morava em Brasília.

Nos últimos anos, Zaiden esteve em Los Angeles, estudando teatro. Casou-se e adotou o sobrenome do marido, Marsh, mas mantém o nome artístico no canal e em sua recém-inaugurada conta do Twitter, @gzaiden. No último sábado (5), ele postou um novo vídeo, "Delírios de uma Mente Insana", torcendo por um retorno bem-sucedido à plataforma (veja acima).

O cenário de profissionalização do YouTube com o qual Zaiden se depara hoje, dominado por gamers, Porta dos Fundos, Kéfera, produtoras e agências publicitárias, não poderia ser mais diferente de 2006.

"Não sei se a juventude de hoje vai gostar dos meus vídeos, se vão me aceitar", especula Zaiden. Sua insegurança foi um dos motivos pelos quais ele não continuou produzindo vídeos, apesar do sucesso de milhões de visualizações.

Arquivo Pessoal
Guilherme Zaiden, primeiro youtuber do Brasil
Guilherme Zaiden, primeiro youtuber do Brasil

Ele dá um exemplo de como não conseguiu se planejar para sedimentar o sucesso. "Na época, eu tive uma reunião com o pessoal do 'Fantástico'. Eles queriam que eu fizesse alguma coisa, disseram que queriam atrair os jovens e tirar a audiência do 'Pânico'", conta (vale lembrar que, em 2006, o "Pânico" da RedeTV! batia picos altos de audiência aos domingos).

"Falaram 'estamos dispostos, abertos a ideias'. Eu não sabia o que fazer, eu não tinha nada", confessa.

Ele também perdeu a oportunidade de ser entrevistado pelo Jô Soares. "A mulher me ligou e disse: 'quero saber o que você tem para contar'. Não tinha nada para contar. Minha pré-entrevista foi uma bosta. Isso foi dando uma insegurança. Pensei: 'dei sorte e agora não sei lidar'. Fui ficando com mais medo."

Se o sucesso de Zaiden foi apenas passageiro, no entanto, a culpa não é só dele. Na época, era quase impossível ganhar dinheiro com o YouTube, e ninguém se planejava para além do clássico "uma câmera na mão, uma ideia na cabeça".

"Hoje, a decisão além de tudo é de ter uma equipe, de roteiristas, atores. Se de repente você começa a fazer vídeos na internet sozinho e audiência cai, você faz o quê, vai no departamento de mídia? Você não tem para quem recorrer, e você não vai brigar com o roteirista porque o roteirista é você", diz Zaiden.

O programa de parcerias, em que o Google dá uma parte da receita das propagandas a quem produz vídeos, só foi lançado em 2007. Até hoje, não é a principal fonte de renda de quem faz vídeos, que conta com merchandising e patrocínios de fora para se manter.

HUMOR NEGRO

O que motivou Zaiden a fazer vídeos em 2006 foi o seu diagnóstico de que faltava acidez no humor brasileiro.

"Achava a cultura do humor no Brasil meio heteronormativa, sabe? Meio homofóbica, ou então machista. Não tudo, mas eu sentia falta de humor negro", afirma o youtuber. "Depois de todos esses anos, ainda acho que falta isso. É como o Porta dos Fundos. Acho eles geniais, mas mesmo eles fazem piada de travesti."

No YouTube brasileiro, para ele, falta também uma cultura de amizade e prezar pelo concorrente. "É uma mentalidade que sempre teve no Brasil. Se você está na Globo não pode falar o nome de outra emissora, de uma marca. Sempre achei isso a coisa mais cafona do mundo", critica.

Além de achar que pode contribuir com seu humor no cenário de hoje, Zaiden também se motivou a voltar por sentir falta do trabalho criativo de fazer vídeos. Mas alguma insegurança ainda permanece.

"Estava vendo os vídeos da Kéfera e fiquei chocado. Liguei para uma amiga minha, chorando: 'Não sei fazer esse foguinho!'. Ela: 'Do que você tá falando?'. 'Esse foguinho atrás do vídeo que a Kéfera faz! Não sei como ela coloca esse foguinho!", disse, referindo-se à edição dos vídeos de Kéfera, que é a maior vlogueira do Brasil hoje.

"Como eu vou voltar para o YouTube?! Não sei fazer nada e eles são profissionais. Vim com a mesma cabeça de quando eu tinha 18 anos, de fazer uns vídeos tontos. Eu me esforço, né, faço o que consigo, mas aquele foguinho dos vídeos da Kéfera eu não entendo", desabafa.


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