Folha de S. Paulo


Novos cavaletes do Masp ganham ajustes em relação ao projeto original

Quando os cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi saíram de cena, em 1996, na gestão do arquiteto Julio Neves como presidente do Masp, uma das justificativas era a preservação das obras.

A localização do museu, na movimentada avenida Paulista, faria o prédio trepidar e o cavalete não ofereceria o suporte necessário para que essa vibração não fosse transferida para os quadros.

As novas versões contam com concreto armado e borrachas para estabilizar as obras, além de vidros de proteção na frente de algumas telas, mas o arquiteto responsável pelo projeto, Martin Corullon, nega que as vibrações do prédio prejudiquem as obras.

"Fizemos medições e mesmo hoje, quando a Paulista é ainda mais movimentada do que na década de 1990, não há uma vibração suficiente para causar danos. Adicionamos os calços apenas para eliminar esse argumento", diz ele.

Outra mudança foi a padronização da fixação das obras. No projeto original de Lina, cada obra precisava ter seu próprio vidro uma vez que o furo era feito especialmente para ela. Agora, é possível fixar diferentes quadros no mesmo vidro graças a um sistema de encaixe no fundo da tela.

Divulgação
Cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi no Masp. Foto: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Os cavaletes exibidos na pinacoteca do museu, na década de 1970

"Ainda que existisse essa trepidação, seria um percalço técnico contornável. O que ocorreu na verdade foi a vitória de uma museologia medíocre e conservadora", afirma Marcelo Ferraz, que trabalhou com Lina Bo Bardi e fez lobby para que os cavaletes fossem tombados juntamente com o museu, em 2003. Foi vitorioso, mas nem tanto: as peças originais foram conservadas nas masmorras da instituição, sem serem usadas.

"O que merece tombamento é a ideia, não a peça em si, que não foi pensada para ter um valor individual e era constantemente reposta", diz.

Hoje o museu guarda 96 bases de concreto originais e cerca de 40 vidros —nenhum deles é usado na mostra.

Procurado pela reportagem, Julio Neves não quis dar entrevista.

Novo cavalete de vidro do Masp

RETORNO ÀS RAÍZES

Para Adriano Pedrosa, diretor artístico da casa, a volta do cavalete faz parte de um projeto de recuperação das "raízes do museu".

Parte dessas raízes está na museologia de Lina. Outra, na ideia de um "Masp grande", retomada da importância da instituição que o presidente Heitor Martins vem tentando encampar com ajuda de membros da elite, após uma crise financeira gerada por processos e má gestão.

Martins assumiu o museu no fim do ano passado, com um saldo negativo de aproximadamente R$ 70 milhões, e impôs que cada um dos 83 membros do conselho fizesse uma grande doação imediata, além de se comprometer em doar pelo menos R$ 25 mil anualmente.

Sob sua administração, o conselho passou a incluir empresários como José Roberto Marinho e Carlos Jereissati Filho, além de cortejar celebridades como Luciano Huck, cotado para reforçar o time de conselheiros.

Se na época de Assis Chateaubriand, um dos fundadores do museu, a chantagem era estímulo para a generosidade, hoje distinção social e acesso um círculo "culto" são os atrativos para quem quer inscrever seu nome na história do Masp. Ainda que seja no fundo de um quadro.

ACERVO EM TRANSFORMAÇÃO
ONDE Masp (av. Paulista, 1578, tel. 11-3149-5959)
QUANDO de terça a domingo, das 10h às 18h; quinta, das 10h às 20h
QUANTO R$ 25; grátis às 3ªs (o dia todo) e 5ªs (a partir das 17h)


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