Folha de S. Paulo


Funcionários sabem de fim da Cosac Naify pela imprensa e redes sociais

Aconteceu em um momento irônico. Enquanto o romancista Estevão Azevedo recebia o Prêmio São Paulo de Literatura, na noite desta segunda (30), sua editora, a Cosac Naify, anunciava que fecharia as portas, depois de quase 20 anos de atividade.

A informação foi antecipada pelo jornal "O Estado de S. Paulo" em seu site, em entrevista com o editor Charles Cosac, fundador da casa editorial.

O diretor financeiro da Cosac Naify, Dione Oliveira, confirmou à Folha o fim da editora. Mas acrescentou que a empresa não fecha imediatamente e que não há data exata para o encerramento das atividades.

Bruno Poletti - 24.set.2015/Folhapress
SÃO PAULO, SP, 24.09.2015: EVENTO-SP - O empresário Charles Cosac - O estilista Alexandre Herchcovitch lançou o livro que comemora seus 20 anos de carreira, na Livraria Cultura do shopping Iguatemi, em São Paulo. (Foto: Bruno Poletti/Folhapress)
O editor Charles Cosac, em evento em São Paulo há dois meses

"A Cosac Naify vai honrar seus compromissos com clientes e fornecedores", disse o diretor, acrescentando que se houver livros selecionados nos editais do governo, eles serão entregues.

COMUNICADO

Procurados, alguns funcionários da editora mostraram-se espantados. Alguns souberam da notícia pela imprensa e pelas redes sociais. Outros receberam um comunicado de Charles Cosac no email por volta das 23h.

"Meus queridos amigos, é com muita tristeza, mas também com muita tranquilidade, que venho participar-lhes da minha decisão de encerrar a Cosac Naify", escreveu o fundador da editora.

"A editora não está falindo, mas encerrando, e esse é um direito que me cabe", complementou.

Embora fale que a editora não fecha por causa da crise, Charles Cosac destacou no email aos funcionários as recentes demissões de "várias pessoas", além do fato de a casa ter adiado ou cancelado lançamentos.

Em maio deste ano, a editora anunciou cortes de até 30% da folha de pagamento, demitindo, por exemplo, Isabel Lopes Coelho, então diretora do núcleo infantojuvenil, um dos mais importantes da Cosac, que foi fechado.

"Todas as medidas possíveis foram tomadas, mas elas não foram suficientes", escreveu ele. Também no comunicado, Charles Cosac destacou que os compromissos assumidos pela editora serão cumpridos.

PAPÉIS

Criada há cerca de 20 anos, a Cosac Naify se especializou em publicar edições especiais, em pequenas tiragens, mas com grande cuidado com o design.

Seu primeiro livro foi "Barroco de Lírios", de Tunga, que trazia mais de dez tipos de papéis e 200 ilustrações. A obra tinha recursos sofisticados, como a fotografia de uma trança que, desdobrada, chegava a um metro de comprimento.

Além de artes plásticas, a empresa publicou diversos títulos de arquitetura, poesia, literatura brasileira e clássicos estrangeiros.
Com o tempo, o catálogo da editora, famoso por edições caras, foi incorporando livros mais baratos. Um dos marcos dessa mudança, criado em 2012, foi a coleção Portátil, de livros de bolso.

Na entrevista ao "Estado de S. Paulo", Cosac diz que a editora vinha se "descaracterizando".

Charles Cosac é sócio do empresário norte-americano Michael Naify. Os investimentos da editora estariam perto de R$ 70 milhões.


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