Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Ucraniano narra batalhas aéreas e ocupa lacuna da 2ª Guerra

Em aviões inimigos abatidos, Ivan Kozhedub foi o mais bem sucedido piloto de caça entre os pilotos aliados. Lutando pela força aérea soviética, o ucraniano derrubou 62 aeronaves alemãs em cerca de dois anos de combate. Setenta anos depois do fim da guerra (completos em 2 de setembro), seu principal livro de memórias, "Tudo Pela Pátria - Em Busca do Combate!", sai no Brasil, em tradução direta do russo.

Kozhedub era, sem dúvida, um aviador competente. É óbvio que isso o fez sobreviver aos encarniçados embates na frente leste. Mas essa competência fez com que ele saísse vivo por um motivo mais prosaico: ele demorou a entrar em combate. Sua capacidade como instrutor fez com que seu desejo de lutar fosse negado repetidamente: os comandantes achavam que ele seria mais útil na formação de pilotos.

Foi sorte, pois durante os dois primeiros anos da invasão nazista da União Soviética (em 22 de junho de 1941), a supremacia aérea pendia para o lado dos inimigos.

Divulgação
Ivan Kozhedub, piloto soviético da Segunda Guerra. Crédito: Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Ivan Kozhedub posa num Lavochkin La-5; ele abateu 62 caças inimigos e é considerado herói entre os aliados da guerra

A URSS perdeu milhares de pilotos e aviões. O principal caça soviético naquela época, o Polikarpov I-16, era claramente inferior aos seus rivais alemães, como o Messerschmitt Bf 109.

Em 1943, quando Kozhedub entrou em combate, a maré da guerra estava mudando. Ele pilotava aviões bem melhores, como o Lavochkin La-5 e o La-7. Depois das derrotas em Stalingrado e em Kursk, os alemães passaram à defensiva. Mesmo assim, haveria mais dois anos de luta brutal até a rendição nazista, em maio de 1945.

Ele também pôde desenvolver seu potencial ao entrar paulatinamente em situações de risco. Foi apenas na sua missão número 40 que ele abateu o primeiro avião inimigo, durante a batalha de Kursk.

O livro foi escrito em 1969 e o autor foi o piloto mais condecorado da história da URSS. É de se esperar um alto nível de patriotismo, slogans e palavras de ordem –isso contrasta vividamente com livros publicados após o fim do comunismo. Kozhedub não tinha como criticar algo que certamente viu e que acontece em qualquer exército em guerra, como covardia, corrupção e autoritarismo.

Na primeira parte do livro, o piloto fala da sua infância difícil em uma pequena aldeia e do impacto do comunismo ali (na época, a Ucrânia era parte da URSS). Ele também descreve bem o horror da invasão alemã: sua aldeia foi ocupada pelos alemães e dois irmãos morreram no conflito.

Para os aficionados de aviação, a ação demora a acontecer. O primeiro avião abatido aparece apenas na página 277, pouco antes da metade.

Ele não descreve todos os combates de que participou, mas apenas os que considera interessantes. Assim, a ação ocorre entre as páginas 301, quando relata o oitavo abate, e 536, quando trata do último avião alemão derrubado, de número 62, sobre Berlim.

O livro tem copiosas e informativas notas do editor, algo fundamental para o leitor brasileiro. São poucos os equívocos, como localizar a cidade canadense de Vancouver nos EUA, ou dizer que a estreia em ação do tanque alemão Tigre foi em Stalingrado, quando foi em Leningrado.

Ao longo dos anos foram editados no Brasil bons livros de memória de pilotos da Segunda Guerra, notadamente de brasileiros, americanos, britânicos, franceses e alemães. O livro do ucraniano Kozhedub preenche uma lacuna importante na bibliografia.

Tudo Pela Pátria – Em Busca do Combate!
AUTOR Ivan Kozhedub
TRADUÇÃO Ekaterina Pastokhova e Claudio Lucchesi
EDITORA C&R Editorial
QUANTO R$ 89,90 (568 págs.)


Endereço da página:

Links no texto: