Folha de S. Paulo


'Deus inspira', diz Vivian de Oliveira, autora de 'Os Dez Mandamentos'

Reza a lenda que Sherazade, figura emblemática da literatura, precisou contar histórias durante 1.001 noites para salvar a própria pele.

Vivian de Oliveira não chegará a tanto, mas terá uma jornada extensa: serão ao menos 300 noites no ar pela Record, pelo menos até o fim da segunda temporada de "Os Dez Mandamentos", em 2016.

O sucesso do folhetim, cuja primeira parte termina na segunda (23), obrigou-a a continuar criando novos capítulos para a saga de Moisés.

Primeiro, foram 50 novos episódios a mais do que os 150 previstos. O folhetim dobrou a audiência da Record no horário, e a emissora começou novembro empatada com a Globo com 23 pontos de média no país (cada ponto equivale a 233 mil domicílios).

Michel Angelo/Tv Record/Divulgação
A autora Vivian de Oliveiro, da novela bíblica
Vivian de Oliveira, que começou na TV como estagiária

Num esforço para evitar a diáspora do público, a Record decidiu consolidar a faixa das 20h30 para tramas bíblicas. Assim que acabar "Os Dez...", "Rei Davi", minissérie que começou a ser reprisada há uma semana, vai ocupar o horário. Depois dela, será a vez de José do Egito. Em 2016, mais 60 capítulos de "Os Dez...".

Todos os textos são de Vivian, que tem trabalhado dez horas diárias para fazer os hebreus finalmente chegarem à "Terra Prometida" –novela de Renato Modesto que vai continuar a saga do povo judeu e que começa a ser produzida para 2016.

Se tem medo de a criatividade acabar? "Acredito muito que Deus inspira, faço orações. E tem a pesquisa e o planejamento, as ideias são suadas, também, você precisa trabalhar em cima delas. Elas não surgem do nada", conta. De fé protestante, ela frequenta a Nova Igreja –tenta ir diariamente ao culto das manhãs.

Para "Os Dez Mandamentos", ela conta com dez colaboradores, entre roteiristas, historiadores, teólogos e especialistas em cultura hebraica.

Vivian é paulista e tem 44 anos. Formou-se em publicidade, mas trabalhou pouco tempo em agência: em 1992, conseguiu uma vaga no programa de estágio da Record.

Começou como roteirista do programa "Sinal de Vida", apresentado pelo cantor Ronnie Von. "Fiquei encantada com a TV, o ritmo, a adrenalina", diz. Cinco anos depois, partiu para os EUA, onde estudou roteiro na Universidade da Califórnia em Los Angeles.

Sua primeira incursão na teledramaturgia foi bem distante do Egito: assinou a minissérie criminal "Por Amor e Ódio" (1997), da Record, protagonizada por Gabriel Braga Nunes. Foi roteirista do "Show do Tom", de Tom Cavalcanti, e colaboradora de "Os Mutantes" (2008).

Começou a usar a Bíblia como inspiração por encomenda da Record, em "A História de Ester", de 2010. Não que antes não enveredasse por tramas históricas: na época da faculdade, escrevia ficção sobre tempos que não viveu.

Eram contos de "cinco ou seis páginas" –uma história rural nos anos 1970, outra sobre o Brasil nos anos 1960, jamais publicadas. "Vontade eu tenho [de publicar um livro], mas não tenho tempo."

E o tempo, quando o tiver, Vivian planeja usar para colocar as séries que acompanha em dia. "'Game of Thrones', por que eu sou apaixonada, não consegui ver a última temporada, para você ter ideia. Nos domingos, às 22h, estava escrevendo." Outra que está no radar é "Downton Abbey".

Entregou o desfecho de "Os Dez..." em 15 de novembro. Para a próxima temporada, promete repetir ingredientes da primeira parte –com reviravoltas e liberdade criativa para, por exemplo, criar vilões como Yunet (Adriana Garambone), que não estava na Bíblia.

Com contrato na Record até 2017, a autora diz não temer uma possível saturação do público com a história. "Acho que há uma expectativa", afirma. "As pessoas gostam muito da história, de visualizar como as situações [da Bíblia] aconteceram."

NA TV
Último Capítulo de 'Os Dez Mandamentos'
QUANDO segunda (23), às 20h30, na Record


Endereço da página: