Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Em '25', voz de Adele vira bênção e maldição, mas deve agradar fãs

Há dois modos de acomodar este aguardado novo álbum do fenômeno Adele no estado de coisas atual da música popular.

O primeiro é ver como é possível, na era do consumo via streaming e download, construir um disco pop com capacidade de vender milhões de cópias físicas, bater recordes e não sair do topo da "Billboard" americana ou das paradas britânicas –com desdobramentos nos outros cantos do mundo– até enjoarmos de ver a capa com o belo rosto de Adele, seus olhos de cor bem tratada, sua maquiagem perfeita e os cabelos bem arranjados.

A segunda maneira é enxergar "25" exatamente como ele é: um álbum com 11 faixas botando holofotes, uma atrás da outra, na poderosa voz da cantora, sua marca mais significativa. E esse modo não é tão favorável a ela (e à indústria) quanto o primeiro.

Porque a "golden voice" de Adele, ao mesmo tempo que é uma bênção (e para seus fãs), pode ser também sua maldição. De identidade tão forte, a garganta de Adele não só abafa facilmente as canções do álbum, muitas delas guiadas por um contrastante dedilhar de piano, como faz do velho exercício de ouvir um disco inteiro um desafio exaustivo.

DOSE CAVALAR

Dito isso, "25", uma coleção de músicas diferentes costuradas pela voz de Adele, funcionaria melhor sendo lançado aos poucos, como singles, no máximo EPs, de consumo esporádico. Adele em doses homeopáticas. Sinal dos tempos em que o fone de ouvido do celular é a nova caixa acústica?

O disco está longe de ser ruim, porém. Com um punhado de músicas boas, outras mais do mesmo –típico de quem está no terceiro disco e, no auge, lança o chamado "álbum de segurança", sem arroubos de ousadia–, "25" tem seus méritos: dialoga exatamente com os outros discos de Adele e é honestíssimo em sua contemporaneidade.

Ao deixar rolar o álbum, o fã consegue ouvir tudo o que pertence (ou ainda pertence) à música pop mais abrangente, em todos os seus nichos.

Dá para sentir gospel pop engrandecedor, músicas da linhagem de programas de TV como "The Voice" (porque grande parte das calouras parecem almejar ser exatamente isso: a nova Adele), uma canção ou outra que combina com uma trilha para cenas explosivas de um filme do 007. Não coincidentemente, tudo o que envolve o universo Adele.

Por trás dos milhões que o disco vai vender, e por baixo da bombástica verve vocal de Adele, "25" é tecido por parceiros, produtores e compositores como o indie Tobias Jesso Jr. e o "midas" Max Martin.

Adele - 25 (CD)
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Em nenhum momento o disco apela para o chamariz fácil de um epíteto como "produzido por Dr. Dre, com participação de Rihanna e/ou Taylor Swift". Exatamente porque Adele não precisa de ninguém maior que ela ou do mesmo nível para vender discos.

Mesmo sem uma faixa com a força de "Rolling in the Deep" (do anterior "21") ou "Chasing Pavements" (da estreia, "19"), algumas músicas deste "25", como "Hello", "Water Under the Bridge" e "I Miss", devem levar Adele ainda mais longe do que ela já foi.

Sem se dar conta, segundo ela. Mas com o pop dando bem conta de tudo.

25
CANTORA Adele
GRAVADORA Sony/BMG
QUANTO R$ 24,90


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