Folha de S. Paulo


Com novo patrocinador e 'pegada fashion', Miss Brasil se moderniza

Sabe aquela imagem da Miss Brasil que sorri como se a última propaganda de pasta de dente dependesse disso e cita "O Pequeno Príncipe" como livro predileto? A Band decidiu que está démodé.

Organizadora do evento desde 2003, a emissora quer mudar a cara plastificada do torneio. Chamou a Ford Models para ser consultora do programa –a ideia é injetar um "ar fashion" e dar adeus ao tchauzinho em "slow motion" que coroa a imagem da miss. Fica a tiara de brilhantes feita pelo joalheiro Pedro Murano.

Conheça a nova Miss Brasil, a gaúcha Marthina Brandt

"No começo fiquei receosa, o concurso tinha uma pegada muito antiga. Achava que as meninas não tinham atitude. Era o mesmo tchau, o mesmo sorriso, a mesma parada", diz Denise Céspedes, 50, à frente do braço brasileiro da agência de modelos que lançou nomes como Sharon Stone e Twiggy.

Uma lição de casa, segundo Denise: observar as "anjas" da Victoria's Secret, curvilíneas e com personalidade.

Antes feito na base de permutas, o 61º Miss Brasil estava com orçamento mirrado por causa da crise, e sua realização era dada como incerta nos bastidores da Band.

Nos 45 do segundo tempo, um patrocinador investiu cerca de R$ 3 milhões na final, transmitida nesta quarta (18). O salvador, João Appolinário, fundador da Polishop, diz querer restabelecer o glamour do campeonato de beleza.

"Quero que tudo seja inovador, a cara da Polishop. Se você entrar numa loja nossa e ver um liquidificador, ele vai ser inovador", afirma à Folha, no saguão do Sheraton WTC, hotel em São Paulo onde o quarto mais barato custa R$ 800. As 27 candidatas (26 Estados mais Distrito Federal) estão hospedadas lá.

BOMBACHA

Appolinário elenca o que entende por "inovação". Conta ter buscado "o que existe de mais fashion" ao contratar a amiga Denise, uma ex-modelo que defende menos cirurgias plásticas nas candidatas (três confessaram à Folha serem "siliconadas").

Também eliminou o desfile de trajes típicos, um clássico do concurso (manteve os de gala, casual, biquíni e maiô). "As pessoas no Rio Grande do Sul não andam de bombacha por aí. E aquela coisa da brasileira que chega no Miss Universo com frutas na cabeça não vale mais."

(A miss gaúcha, Marthina Brandt, 23, está chateada: já havia mandado confeccionar suas vestes dos pampas.)

O título de Miss Simpatia já era. Entra o Miss Be Emotion, batizado com o nome da linha de cosméticos da Polishop.

Não existe mesmo almoço grátis: as tradicionais caravanas a churrascarias e pontos turísticos do Estado-sede (neste ano, São Paulo) foram extintas. Em 2011, as meninas visitaram o museu mineiro Inhotim, onde a Miss Paraíba se encantou com um caxinguelê na mata. "Quando vi o esquilinho, comecei a assoviar do jeito que eu chamava meu Chiquinho [seu sagui]."

"A gente julgou que esses passeios passivos não contavam a história delas", diz Karina Ades, diretora do programa pelo quarto ano. Tem outro ponto: essas saídas precisavam ser exibidas dentro dos antigos contratos de permutas (a marca fornece algo e exige publicidade em troca).

MISSÓLOGO

Enquanto tenta se modernizar, o Miss Brasil se agarra a velhos hábitos. Consta no regulamento que as candidatas não podem ser casadas (nem união estável), divorciadas, serem mães ou estarem grávidas.

"Tem que ver se a sociedade antiga, que ainda é muito forte, vai aguentar mudanças", diz Evandro Hazzy, 45, missólogo (espécie de técnico da miss) que emplacou oito gaúchas no Miss Brasil.

Na infância, Hazzy premiava colegas da escola com faixas de papel higiênico, na qual pintava a canetinha "Rainha da Primavera". Nesta semana, ele abre em Porto Alegre uma escola para preparar misses, o Atelier de Estilo.

Lá as alunas têm aulas de etiqueta ("como se sentar quando o cavalheiro puxa a cadeira"), preenchem lábios e seios, passam por psicólogos –uma garota foi dispensada "pois não gostava de menino".

O dono da Polishop tem tudo para ser "o Donald Trump Brasileiro", diz Hazzy, em referência ao ex-dono da marca Miss Universo e hoje candidato a presidente dos EUA.

A representante do Pará, Caroline Ribas, 24, conta que ficou "um pouco chocada" com as novidades da disputa. "Mas prometo não finalizar nenhuma coleguinha", afirma ela, lutadora de jiu-jítsu.

Caroline Toledo, 21, sua xará do Amazonas, também está no páreo para ganhar um carro, uma viagem a Istambul, o status de garota-propaganda da Polishop e o direito de disputar o Miss Universo 2015, em Las Vegas, mês que vem.

Em janeiro, Sheislaine Hayalla, vice-campeã na etapa amazonense do concurso, atacou Caroline ao vivo, tentando lhe puxar a coroa. Ela destaca a superação desse trauma como uma virtude. "Passei a buscar a verdade, me preocupar com o próximo."

Nem citou a paz mundial.

NA TV
Miss Brasil
QUANDO 22h30, na Band


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