Folha de S. Paulo


Nunca me embaralhei com prestação de contas de 'Chatô', afirma Fontes

Depois de uma epopeia que já completa 20 anos, o diretor Guilherme Fontes planeja lançar seu "Chatô: O Rei do Brasil" na mesma semana em que chega em cartaz o último episódio de "Jogos Vorazes", saga blockbuster conhecida por ser "fominha": tradicionalmente monopoliza boa parte das salas do país.

"Se lançasse antes, eu poderia ser expulso pelo 'Jogos'. Se lançasse depois, poderia não ter mais espaço", diz Fontes, que criou a própria distribuidora (a Milocos Entretenimento) para lançar o filme primeiro em 40 salas de São Paulo e Rio, e depois levá-lo para o restante do país –produção que captou R$ 8,6 milhões via leis de incentivo desde 1995.

A confirmação, contudo, depende do aval das exibidoras. A Folha falou com as redes Cinemark e os circuitos Espaço Itaú e Estação. Todas confirmam o interesse em exibir "Chatô", mas afirmam que só na tarde desta terça (19) é que definirão a programação.

Na noite de terça, o diretor organiza uma pré-estreia de "Chatô" em São Paulo, aberta apenas para convidados.

Folha – Como pretende fazer a distribuição do seu filme?

Guilherme Fontes– Sempre sonhei em participar ativamente do lançamento. Quando vislumbrei, no ano passado, que acabaria o filme, comecei a estruturar o processo, fiz um mapeamento do Brasil, pesquisando bairros e público. Quero lançar em 40 salas no Rio e em São Paulo, que representam 60% do mercado, e depois partir para outras cidades. Como sou distribuidor pequeno, preciso fazer algo que meu braço alcance.

Alguma rede de cinema já confirmou a estreia?

As maiores: Kinoplex, Cinemark, UCI... Nesse último fim de semana, três exibidores pequenos me ligaram. Ainda não fechei com eles.

Mas a confirmação de fato só sai na terça, quando as redes fecham a programação.

Isso é uma loucura, né? As redes programam conforme a demanda que elas têm. Mas não é só comigo, todos os filmes passam por esse filtro.

Não teme que "Jogos Vorazes", que estreia nesta semana, tire espaço de "Chatô"?

Não. Eu confio no meu filme. O meu público é diferente. E tem outra: se alguém for ver "Jogos Vorazes" e as sessões estiverem cheias, a pessoa provavelmente vai entrar no meu filme. Prefiro estrear junto do "Jogos" para não ser tirado por ele das salas.

O seu público pode ser diferente do de "Jogos Vorazes", mas há outros três brasileiros que devem estrear nesta semana.

Mas acho que cada um tem seu nicho. A concorrência é saudável. Não estou pensando em uma ou em mil salas. Estou pensando em ter média boa de público por sala ou estar acima dela. Não tenho maiores exigências. Bilheteria é o objetivo principal.

Por que é que o escritório de advocacia que o defende aparece logo nos créditos iniciais, entre os patrocinadores?

Porque, porra, eles tiveram de me defender de acusações de milhões de reais. Eles acreditavam que estava tudo bem comigo. Me patrocinaram, me protegeram. É um valor inestimável, que eu jamais poderia pagar com dinheiro. São meus grandes patrocinadores.

Nos créditos finais, você diz que foi censurado. Por quem?

Fui inibido pelo governo e por alguns jornalistas mal-intencionados. Fui censurado pela gestão do Ministério da Cultura no segundo governo FHC, que criou um processo embaralhado, falso, hipócrita. Isso fez com que os governos que vieram depois se fingissem de mortos. Os seguintes foram omissos, exceto na gestão da [ex-ministra da Cultura] Ana de Hollanda.

Mas como eles o censuraram? Que interesse teriam?

O Ministério da Cultura e a Secretaria do Audiovisual não aguentaram o fato de que eu tinha todas as contas prestadas que contrataram até uma auditoria externa. Fizeram isso por interesse pessoal, inveja, apoiaram-se na hipótese de que meu filme pudesse ser uma ofensa a eles ou uma crítica à imprensa.

Você também se diz vítima de um caso passional. De quem?

De uma série de pessoas que têm paixões e ciúmes do projeto. De quem? De namoradas que tive no passado. De quem queria comprar os direitos do livro, não conseguiu e quis me queimar

Você se refere ao produtor Luiz Carlos Barreto?

Eu não sei. O que você acha? É o que dizem...

À Folha, o ator Paulo Betti disse crer que você talvez tenha se embaralhado com as contas.

As contas foram prestadas. Nunca me embaralhei nas contas, me enrolei foi com o processo movido contra mim, que tem páginas modificadas em cima da hora, assuntos confusos: fatos que aconteceram em certas datas apontados como se tivessem ocorrido em outras. Isso me embaralhou. Aí foram achar pelo em ovo: irregularidades com terceiros.

Com que terceiros?

Com prestadores de serviço para o filme, gente que produziu notas frias. Mas não sou responsável por essa fraude.

Pretende tocar outros projetos no futuro?

Sim. Quero escrever um livro de memórias e curiosidades sobre "Chatô" e um documentário sobre ele. E tocar roteiros que tenho: um sobre surfe, outro sobre as UPPs e um terceiro sobre religião.

Com dinheiro público?

Talvez. Sempre vou colocar recurso próprio com recurso público. Mas cada vez menos recurso público.

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DECLARAÇÃO 'INGRATA'

O Ministério da Cultura rebateu as acusações feitas por Guilherme Fontes. "O ministro Juca Ferreira considera uma ingratidão a declaração. À época, fez todos os movimentos ao alcance do poder público para que a dívida do filme fosse renegociada junto aos seus credores", informou, via assessoria.

Ferreira foi ministro da Cultura entre 2008 e 2011 e reconduzido neste ano.

Já o produtor Luiz Carlos Barreto não foi encontrado, mas já afirmou à Folha que nunca criou dificuldades à produção de "Chatô" e que deseja sorte ao diretor.

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BAQUE NA PROGRAMAÇÃO

Até o meio desta semana, estarão em cartaz nos cinemas paulistanos 56 filmes (incluindo 20 brasileiros).

A partir desta quarta (18), contudo, o número pode sofrer uma boa enxugada com a estreia de "Jogos Vorazes: A Esperança - O Final". A programação só será fechada na tarde da terça (17).

No ano passado, o penúltimo filme da franquia ocupou quase metade de todas as salas de cinema do Brasil, tirando de cartaz outros longas-metragens.

Ou seja, se você está planejando assistir a algum filme que está em cartaz, é bom correr aos cinemas agora mesmo, já que é grande a chance de que o circuito de cinemas sofra um grande baque.


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