Folha de S. Paulo


Aos 30, Carol Rodrigues estreia na literatura como finalista do Jabuti

Foram necessários 21 contos e 13 dias para que, de autora desconhecida, Carol Rodrigues se tornasse uma das revelações da literatura em 2015.

Aos 30, a carioca radicada em São Paulo conseguiu figurar na lista dos finalistas do Prêmio Jabuti, divulgada em 22/10, e na relação dos vencedores do Prêmio Biblioteca Nacional, publicada em 4/11. "Foi um susto gigantesco. A ficha demorou para cair", diz.

Seu livro de estreia, "Sem Vista para O Mar" (Edith, R$ 25, 124 págs.), reúne tudo o que produziu durante o curso de escrita com Marcelino Freire no Centro Cultural B_arco.

São textos curtos, em prosa que não respeita vírgulas e pontos, e que lembra poesia em alguns momentos.

Fabio Braga/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 11-11-2015: XXXXXXX. A escritora e produtora Carol Rodrigues e finalista do Jabuti e vence premio Biblioteca Nacional. (Foto: Fabio Braga/Folhapress, ILUSTRADA)***EXCLUSIVO***.
Carol Rodrigues, autora de 'Sem Vista para O Mar'

Como no trecho de "Onde Acaba o Mapa", conto que abre o livro: "Olhou em volta ninguém me olha fechou o olho e fez calor pelo queixo no ombro ruivo do ruivo. Foram doze músicas iguais."

"Neste meu primeiro livro eu estava aprendendo a escrever", afirma Rodrigues, que é formada em cinema e, por se achar "pequena demais para fazer literatura", começou a levar a escrita a sério há apenas três anos.

"Eu investigava as palavras, os sons, mas não sabia contar uma história com começo, meio e fim."

O som, aliás, é protagonista na obra de Rodrigues. Durante uma passagem pelo Terminal Barra Funda (SP), começou a notar a riqueza da sonoridade de nomes de cidades que pendiam das placas dos guichês: Bataguassu, Auriflama, Olaria, São João do Pau d'Alho, "milhares de palavras lindas de várias origens, nomeando lugares que talvez eu nunca conheça".

"Depois, comprei um mapa rodoviário e comecei a traçar alguns trajetos. Passei a imaginar histórias", afirma.

Começou a escrever de maneira intuitiva, sem pensar em estruturar um enredo. O fluxo de consciência empregado na escrita leva a acertos e erros, e muito do trabalho se perde no caminho. "Eu faço o mesmo conto com três finais diferentes e depois escolho o que julgo melhor —ou jogo em alguma pastinha."

"Pastinha" é uma espécie de limbo literário. Rodrigues diz ter algumas delas no computador: uma para textos que não serão mais acessados, mas não serão deletados —tem uns 50 contos nela—; outra para textos que "estão muito, mas muito ruins mesmo", mas têm algum potencial —agora com 20 arquivos.

Descartar texto não é um problema, ela garante. "'Sem Vista para o Mar' tinha muitos contos mais, mas joguei metade fora. Fui impiedosa", diz a escritora. "E serei mais ainda nos livros seguintes."

SEGUNDO LIVRO

Depois do nome nas listas literárias entre outubro e novembro, a vida de Rodrigues mudou bem pouco. Ela diz ter ganhado mais leitores e alguns elogios de professores —e não foi procurada por agente literário algum. No mais, tudo continua igual —inclusive sua produção, para a qual dispensa pelo menos três horas na semana.

"Os prêmios não podem ditar uma trajetória", afirma. "São um recorte, uma linda dose de reconhecimento e estímulo, mas jamais um norte."

Com este pensamento, a escritora trabalha no segundo livro, "Os Maus Modos". Ela diz que será uma obra menos poética —"mas a linguagem continua estranha"—, com narrativas que buscam "brincar com ações comuns que, aos olhos dos outros, podem ser consideradas bizarras... Eu não saberia explicar melhor".

O novo livro deve sair no primeiro semestre de 2016.


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