A americana Jazz Jennings, 14 anos, foi eleita pela revista "Time" uma das adolescentes mais influentes do mundo em 2014. Autora de livros juvenis e "youtuber" popular, ela enfrenta um problema que a distingue de quase todas as garotas da sua idade —inclusive de suas colegas que também figuram na lista, como a cantora Lorde ou as filhas do casal Obama.
Ela tem curiosidade de saber como é ser beijada, de como é ter um namorado, mas sabe que será difícil: os rapazes de seu colégio têm vergonha de estar com ela porque Jazz é transexual. As agruras de passar pela puberdade, o bullying amplificado pela questão de gênero e as desilusões amorosas e sociais, com a questão de gênero tão latente, são retratadas no reality show "I am Jazz", que estreia no Brasil nesta segunda (9), às 20h30, no canal pago Discovery Home & Health.
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| A adolescente Jazz Jennings, estrela do reality show 'I Am Jazz' |
O programa é como uma versão politizada do reality show "Keeping Up with the Kardashians", que há oito anos exibe a vida da família de Kim Kardashian. Mas aqui é como se o exibicionismo do clã mais vigiado dos Estados Unidos já começasse com o episódio de afirmação da transexualidade de Caitlyn Jenner no programa "I am Cait" (2015), sobre a transformação do atleta Bruce Jenner, padrasto de Kim, em Caitlyn. Até o nome das produções é semelhante.
A mãe de Jazz, Jeanette Jennings, conta que a família, no início, ficou receosa, tendo em vista que considera a maioria dos programas do tipo, e a exposição que eles atraem, "controversa".
"Somos uma família americana lidando com uma questão que a maioria das famílias não tem, que é criar uma filha transgênero. Mas se você assistir ao programa, verá que não somos nada como as Kardashians ou outras atrações do tipo", comenta Jeanette à Folha, por telefone.
Os primeiros episódios dão conta da naturalidade com que mãe e filha lidam com as transformações do corpo e os tratamentos hormonais a que Jazz precisa se submeter para se olhar no espelho e se reconhecer como gostaria: uma garota apaixonada por sereias.
O programa conta que a adolescente manifestou as primeiras inquietações com o gênero ainda na primeira infância e teve a sorte de contar com uma mãe compreensiva, que estimulou o processo de descobrimento do feminino em Jazz.
| Reprodução/Instagram/jazzjennings_ |
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| Jazz Jennings quando criança, em foto publicada em seu Instagram |
"Jazz toma hormônios desde os 11 anos. Conversamos muito sobre sua vida e seu futuro, sobre o desenvolvimento de seu corpo. Ela não quis desenvolver características masculinas, e eu lhe disse 'não se preocupe, a mamãe vai garantir que você nunca se pareça com um garoto. Eu amo você e vou te apoiar, faremos o que for necessário para que você seja uma jovem linda'", afirma Jeanette.
A mãe conta que a presença maior da transexualidade na mídia —com capas de importantes revistas para Caitlyn Jenner e a atriz Laverne Cox, da série "Orange is The New Black"— tem tornado mais fácil a aceitação por outras pessoas.
"A escola não era muito compreensiva no começo. Tudo era um desafio, porque não há muitas crianças trans. Você não as via antes, as crianças ficavam escondidas. Com a mídia mostrando figuras proeminentes como Caitlyn e Laverne, todo mundo pode dizer que sabe quem Caitlyn Jenner é. Abriu portas", afirma.
Outras, porém, permanecem ainda bem fechadas. A associação de mães americana One Million Moms, cuja missão é "lutar contra a indecência", protestou e exigiu que a série saísse do ar. A página do grupo é "curtida" por mais de 75 mil pessoas no Facebook.
Para esse tipo de reclamação, Jeanette diz que os Jennings não estão nem aí. "Eles perdem tempo sentindo ódio por quem é diferente deles. Sabe, não tenho paciência alguma e não presto atenção. São pessoas muito negativas", diz a mãe.
Ao que parece, a Discovery também não liga para a cruzada contra a "indecência" e, segundo a matriarca, uma segunda temporada do reality show já está em negociação.
NA TV
"I Am Jazz"
Estreia do reality show
QUANDO seg. (9), às 20h30