Folha de S. Paulo


Nair Benedicto expõe 40 anos de fotografia em mostra em SP

Em 2014, um cano estourou na casa de Nair Benedicto. Resultado de cromos encharcados, seus registros do primeiro encontro dos povos indígenas do Xingu, em fins dos anos 1980, são expostos pela primeira vez, sob manchas rosadas –efeito colorido provocado pela água.

"Esse borrão eu acrescentei de propósito", conta a fotógrafa de 75 anos, apontando para uma das imagens esbranquiçadas na parede.

"Peguei a água e joguei porque queria pôr o branco entrando na zona indígena, o branco na fotografia."

Os registros danificados de Altamira (PA) ocupam uma das nove salas da mostra "Por Debaixo do Pano", que reúne na Casa da Imagem, no centro de São Paulo, 117 fotos produzidas por Nair nas últimas quatro décadas.

Retratos antigo parecem recentes, com temas prementes como o da violência contra a mulher. Outros, feitos nos últimos meses, dialogam com o passado, como a série de imagens invertidas da cidade, uma representação da visão que a fotógrafa tinha do pau de arara a que foi submetida durante o regime militar.

"Não tem uma sala que não tenha uma posição política. Todas têm. Para mim não tem sentido fazer de outra forma", afirma Nair. Sem dúvida, sua posição exala com mais força no espaço dedicado aos anos de chumbo.

Num cômodo batizado de epígrafe pelo curador Diógenes Moura, fotos etéreas de sombras e figuras humanas, feitas entre 2012 e 2015, preparam o clima para o ambiente ditatorial que vem a seguir –quebrando com o colorido dos índios e do Carnaval pernambucano que abre a exposição. "É um silêncio de observação e reflexão", afirma o curador.

Há cinco anos, Moura se debruça sobre o trabalho de Nair para montar a mostra, em cartaz até fevereiro.

Embora alguns dos trabalhos mais icônicos dela estejam presentes –como a célebre imagem de um casal agarrado em meio a pista de forró–, a maior parte é inédita. Da série feita no forró paulista, nos anos 1970, surge uma surpresa encontrada por Nair.

"De repente bati o olho nessa e me emocionou tanto vê-la. Essa cara, essa ternura", conta diante do retrato feito no mesmo dia, mas nunca exibido: um homem e uma mulher que parecem querer fundir os rostos de tão colados durante a dança.

"Faz parte do tesão do forró. Que coisa linda, né?", diz Nair. "Principalmente agora que estamos vivendo um momento em que o amor não está em pauta."

POR DEBAIXO DO PANO - NAIR BENEDICTO
QUANDO de ter. a dom. das 9h às 17h; até 7/2
ONDE Casa da Imagem, r. Roberto Simonsen, 136-B, tel. (11) 3106-5122
QUANTO grátis


Endereço da página:

Links no texto: