Folha de S. Paulo


Premiado em Veneza sob vaias, filme 'Desde Allá' estreia em São Paulo

Desde Allá

Quando o filme venezuelano-mexicano "Desde Allá" foi anunciado como o vencedor do Festival de Veneza de 2015, a sala de imprensa do evento foi tomada por uma retumbante vaia. Presidente do júri, o diretor mexicano Alfonso Cuarón foi acuado por questões sobre um eventual "favorecimento latino-americano".

Primeiro representante da região a ganhar o Leão de Ouro, prêmio máximo de Veneza, "Desde Allá", de Lorenzo Vigas, é um drama social, gênero comum no cinema latino.

O chileno Alfredo Castro ("No", "O Clube") faz o papel de Armando, sujeito de meia idade, da classe média de Caracas, que tem o costume de pagar a jovens para que tirem a roupa na sua frente. Mas ele se contenta em olhar, repele a todo custo o contato físico.

Armando se depara com o adolescente Elder (o estreante Luis Silva), pequeno delinquente das ruas, que se mostra carente de calor humano.

O filme se faz a partir dessa improvável união dos dois –no plano social e no quanto buscam ou evitam o toque.

"Queria esse embate entre um, que vive a solidão protegida, e o outro, imerso em tensão social", afirma Vigas.

Divulgação
Armando (Alfredo Castro) e Elder (Luis Silva) são parceiros improváveis no filme 'Desde Allá', dirigido por Lorenzo Vigas
Armando (Alfredo Castro) e Elder (Luis Silva) em cena do filme 'Desde Allá', dirigido por Lorenzo Vigas

Silva, 21, conta que o universo de seu personagem, órfão e pobre, lhe é familiar. "Também venho um bairro simples em Caracas, sei como são as ruas de lá, como Elder."

Mais do que a homossexualidade, questão que tange a relação de ambos os personagens, o diretor diz que quis somar uma ainda maior: a "orfandade emocional".

"Tenho obsessão pelo tema da paternidade, por esse arquétipo do pai latino, aquele que nunca está em casa e cria esse vácuo afetivo", diz o venezuelano, que teve o filme produzido pelos diretores mexicanos Michel Franco ("Chronic") e Guillermo Arriaga ("Vidas que Cruzam").

Vigas também comentou o atual estágio das produções latino-americanas: além de representantes de Chile, México e Venezuela, tem também montadora brasileira (Isabela Monteiro de Castro).

"Estamos conectados, mas ao mesmo tempo estamos distantes. Esse filme é um esforço pequeno nessa integração, mas que sirva de base."


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