Produto típico da geração de Sundance, ou seja, do cinema falsamente independente feito nos últimos anos, "Eu Estava Justamente Pensando em Você", de San Esmail, mostra que a decadência do cinema americano atinge todas as suas frentes, não apenas o blockbuster.
O filme mostra o relacionamento conturbado entre Dell (Justin Long, em atuação afetada) e Kimberly (Emmy Rossum), mas os eventos são embaralhados, e muitas vezes filmados como se pertencessem a uma outra dimensão.
Parte da ideia é justamente provocar o desnorteamento do espectador, que é emaranhado por uma rede de informações propositadamente desconexas.
A matriz óbvia é Wong Kar-Wai, principalmente dois filmes celebrados na década passada, "Amor à Flor da Pele" (2000) e "2046" (2004).
Trata-se, assim, de um trabalho que privilegia sensações e procura entender, em momentos dispostos sem qualquer didatismo, uma relação entre duas pessoas que se gostam e se repelem.
Divulgação | ||
Cena do filme "Eu Estava Justamente Pensando em Você" |
No campo formal, o enquadramento desloca as principais informações para as laterais da tela, o que faz com que campos e contracampos pareçam mostrar os atores interagindo com a borda da tela.
O efeito não é novo. Vem de Michelangelo Antonioni, de Jean-Marie Straub e Danielle Huillet, da nouvelle vague japonesa, muito antes de Wong Kar-Wai. E se olharmos para a vanguarda dos anos 1920, encontraremos experiências semelhantes.
O filme exige paciência do espectador, que se conseguir resistir aos horrendos primeiros minutos, pode até embarcar nesta brincadeira disfarçada de coisa séria.