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'Fiz um filme estranho de espiões, sem tiroteios', diz Steven Spielberg

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Juntos, eles fizeram "O Resgate do Soldado Ryan" (1998), "Prenda-me Se For Capaz" (2002) e "O Terminal (2004), além de diversos projetos premiados na TV. Steven Spielberg e Tom Hanks estão agora em "Ponte dos Espiões", que estreia no Brasil nesta quinta-feira (22).

O drama de espionagem conta a história de James Donovan, advogado de seguros que ajudou a libertar prisioneiros americanos durante a Guerra Fria, nos anos 1960.

A Folha encontrou a dupla para uma conversa sobre o filme, coescrito pelos irmãos Coen, que já começa a ganhar força na corrida para o Oscar.

Folha - Muitos dos seus filmes têm uma ligação direta com a época da Guerra Fria.

Steven Spielberg - Quando lembro que cresci durante a Guerra Fria, nada me parece simples. Havia um jogo perigoso de diplomacia entre EUA e União Soviética, com a ameaça de um apocalipse nuclear. Como criança, isso me afetou. Tínhamos treinamento contra bombardeios, alertas que interrompiam a programação da TV. Hoje, você pode estudar programação e virar um espião no computador. Nós nos sentimos ameaçados, mas a guerra é bem diferente.

O filme foi um modo de realizar o sonho de ser James Bond?

Tom Hanks - Se James Bond fosse um advogado barrigudo [risos]... É engraçado, pois Donovan só tem uma habilidade: ser um grande negociador. Não temos garotas sedutoras nem carrão equipado.

Steven, alguns dos seus filmes possuem elementos de espionagem, mas esse é seu primeiro no gênero.

Spielberg - Sim, mas fiz um filme de espionagem estranho. Não há tiroteios, a munição de Donovan é sua maneira de lidar com as palavras e como ele sabe ler a pessoa com quem negocia. Ele era tão bom negociador que Kennedy o levou para Cuba no episódio da invasão da Baía dos Porcos e ele libertou milhares de prisioneiros negociando com Castro.

Por que essa preferência por filmes históricos?

Spielberg - Não tenho preferências. Meu próximo projeto, "The BFG", é um livro maravilhoso sobre a geração que [o escritor britânico] Roald Dahl criou em 1982. E estou preparando "Jogador Número 1", que é uma aventura de ficção científica. Reajo ao que me interessa no momento. Quando leio algo que não me deixa dormir à noite porque não tiro a história da mente, sei que terei de trabalhar naquele projeto.

Mas você queria dirigir "Sniper Americano" e desistiu...

Spielberg - Desenvolvi por muito tempo. Após trabalhar com Jason Hall e no seu roteiro por muito tempo, pensei se queria ser lembrado por "O Resgate do Soldado Ryan" ou por algo diferente que honra jovens lutando nas guerras do Iraque e do Afeganistão. Recuei na minha decisão porque não queria fazer um longa de combate que pudesse ofuscar "Ryan". Só isso.

Com tanto reconhecimento, vocês possuem dúvidas?

Spielberg - A dúvida é o combustível de um trabalho melhor. Se não tivesse dúvidas sobre o que faço, seria muito chato trabalhar todas as manhãs. O mistério que acontece entre o primeiro dia de filmagens e o último, a ansiedade que causa? É isso que gosto de superar.

Hanks - Estamos no fim do dia, depois de filmar por 11 horas e só temos mais duas horas para terminar, então vejo Steven sentado lendo o roteiro para ver se pode descobrir algo diferente. É uma maravilha observar isso, mas é cansativo ao mesmo tempo.

Vocês estão otimistas com o futuro do entretenimento?

Spielberg - Vivemos um período de ajustes, mas grandes ideias encontram espaço.

Hanks - As pessoas não podem viver sem a experiência comunal de compartilhar uma história com um monte de estranhos em uma sala escura. Não importa quão boa seja a programação da TV.


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