Folha de S. Paulo


Casal cria editora especializada em livros LGBT e mira grande mercado

Nos quase dez anos de carreira no mercado editorial —atuando em grandes editoras, como Ática e Saraiva—, uma sensação incômoda tem acompanhado Juliana Albuquerque: livros com temática LGBT são coisa rara nas livrarias.

"Entre em qualquer grande loja e pergunte ao vendedor se ele tem algum título de literatura LGBT. Ele indicará, no máximo, uns três títulos", diz.

De olho nessa lacuna, ela e o marido, Marcio Coelho, fundaram, em setembro, a Hoo Editora, casa voltada exclusivamente à ficção LGBT –mas não exatamente uma editora de nicho, como afirma a publisher.

"O que queremos é que a temática LGBT esteja na história não como exceção, mas, sim, de maneira natural, como na sociedade", diz. "A vida não é heteronormativa. A vida é muito mais diversa que isso".

Juliana Ferraz
Juliana Albuquerque, cofundadora da Hoo Editora, especializada em livros com temática LGBT. Crédio: Juliana Ferraz ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Juliana Albuquerque, cofundadora da Hoo Editora, especializada em livros com temática LGBT

Segundo Juliana, nas obras os protagonistas não serão sempre gays, as cenas de amor não envolverão obrigatoriamente pessoas do mesmo sexo e os relacionamentos nem sempre serão homoafetivos. "Queremos elementos do universo LGBT nas histórias, independentemente de serem histórias sobre gays, escritas por gays ou algo assim."

A proposta da nova editora atraiu a atenção de escritores. Quatro dias depois de um post público em seu perfil no Facebook, em setembro, a Hoo recebeu oito originais; com uma semana, o número subiu para 15. "Até o momento recebemos 50 propostas", diz Juliana.

Os planos da nova editora são audaciosos: a Hoo lança em novembro os dois primeiros títulos —"Nicotina Zero", romance de Alexandre Rabelo, e "Torta de Climão", HQ de Kris Barz (R$ 29,90 cada um). Depois, quer colocar no mercado um novo livro por mês até junho de 2016.

"Os livros terão tiragem inicial de 3.000 exemplares", diz Juliana. Uma quantia similar à média praticada no mercado, mas incomum para títulos LGBT —que geralmente têm tiragens mínimas e obras vendidas apenas on-line. "As grandes lojas do varejo apostaram na nossa ideia e pedem, em média, 300 exemplares cada", afirma.

Juliana diz que, entre os próximos lançamentos, há títulos do gênero "young adult" (um infantojuvenil sem ingenuidade). Pode surgir aí um "A Culpa é das Estrelas" na versão LGBT. "Se o best-seller de John Green trouxesse um casal gay, provavelmente receberia mais holofotes, mas não de maneira positiva", afirma.


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