Folha de S. Paulo


Prévia dos desfiles: marcas escapam para outros tempos e espaços

A temporada de inverno 2016 da São Paulo Fashion Week é marcada pela volta do evento ao pavilhão da Bienal, que foi sua casa por muitos anos. Outra novidade é o desfile único de abertura, neste domingo (18): Alexandre Herchcovitch brilha só.

Com marcas como Coven e Ratier estreando, a passarela ganha mais do tricô que molda corpos e cria estampas, no primeiro caso, e minimalismo relaxado, no segundo.

Renato Ratier, DJ e dono da boate D-Edge, quis manter a surpresa até o desfile. Mas quem conhece sua loja, nos Jardins, pode esperar por peças alongadas, looks monocromáticos e sobreposição. Ele só diz que mostrará looks inspirados em "guerreiros" e "tempos duros".

Outro que liga seu mote à conjuntura é Ronaldo Fraga: "Em tempos de guerra, transgressão maior não há do que falar de amor e paixão. Foram o maior estímulo para a nova coleção".

A crise evoca um desejo escapista, que havia dado as caras nos desfiles internacionais e ganha força no inverno brasileiro. Vale fugir para outro país, década ou até para dentro de casa.

Colcci fala da necessidade de escapar da metrópole, Ellus viaja ao Arizona e a mineira PatBo vai de mulher nômade, traduzida em silhueta mídi assimétrica, decorada com suas técnicas luxuosas. Já Herchcovitch parte de sexo e lingerie e volta à era vitoriana, desfilando camisolas com babados. É o "novo romântico", firmado na nostalgia, no passado idealizado.

As últimas temporadas falaram quase só de anos 1970, mas isso muda neste inverno.

"O conceito de 'mais é mais' oferece extravagância em estampas e decorações. Peças ultratrabalhadas evocam o excesso dos 1980, com silhuetas ricas, cores fortes, tecidos metálicos e sensualidade subvertida", diz Lizzy Bowring, editora de passarelas do bureau WGSN.

Juliana Jabour é uma que se baseia nos 80. Wagner Kallieno também bebe nessa fonte, com trabalho quase literal. "Busquei inspirações no punk dos 80, com ombros pontudos e cintura marcada, Vivienne Westwood, Sid Vicious e cartazes de banda."

O feito à mão segue em alta. Com Fernanda Yamamoto, ele vem de 77 rendeiras do coletivo feminista Cunhã, no Cariri paraibano. Na Colcci, surge no jeans bruto misturado com renda guipir, florais orgânicos, cashmere e gazar. "A vegetação camuflada na poeira e o monocromático dos desertos influenciaram cores e acabamento", diz a diretora de estilo Adriana Zucco.

A renda surge desconstruída e reconstruída na parceria entre Riachuelo e Lethicia Bronstein. "Tem muita mistura de textura em rendas e estampas", revela a estilista.

Depois de fechar a grife Têca, Helô Rocha estreia sua marca homônima, focada em trabalhos manuais com rendas, bordados e couro.

Já na Animale de Vitorino Campos, a coleção olha para a "land art" e as formas arquitetônicas do japonês Tadao Ando. É feita para "uma mulher híbrida, com novas ideias", segundo o estilista.

Raquel Davidowicz, da grife Uma, vai colocar liberdade na passarela. "É o que queremos nesta sociedade 'mobile'. Escolhemos roupas que expressam essa necessidade, traduzida em conforto, praticidade, qualidade e proteção." Leia-se silhueta desencanada, em crepe e moletom.

Na Osklen, Oskar Metsavaht usa deuses gregos e atletas atuais como referências para criar também com moletom, veludo, jérsey e seda.

A Ellus faz alusões esportivas na estreia de nova linha. Skate, boxe e parkour entram na equação, em coleção que passa longe da caricatura.

Nos acessórios, brincos e broches grandes em alta. Nos pés, ar vintage, bordados e plataformas de todos os jeitos, em todos os desfiles.


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