Folha de S. Paulo


'Miele era o mágico de Oz brasileiro'; leia repercussão da morte do artista

O produtor musical e diretor Luiz Carlos Miele, 77, morreu na manhã desta quarta-feira (14) após passar mal em casa, na zona sul do Rio. A informação foi confirmada pelos bombeiros. Leia a seguir a repercussão da morte do artista paulista.

*

Ao telefone, Jô Soares se disse abalado demais para falar sobre Miele, seu amigo de longa data. Falou brevemente sobre o companheiro e parceiro ao longo da carreira, que, "por uma coincidência terrível", entrevistou nesta semana. A conversa, inicialmente programada para a próxima segunda (19), será exibida em seu programa na TV Globo na noite desta quarta-feira (14).

"Eu não tenho cabeça neste momento para falar do Miele. Um amigo de muitos e muitos anos, por mais que fale não vai caber em nenhuma homenagem. Por uma coincidência terrível, gravei com ele nesta semana. Ficou uma coisa muito entrosada e bonita. [O Miele] não cabe em uma única homenagem, é de um tamanho que não cabe praticamente em lugar nenhum. Não tem palavras que substituam, primeiro, a surpresa e, segundo, a dor e a saudade que ficam. Foi um amigo de muitos anos, de humor extraordinário e que no final acaba pregando uma peça na gente, morrendo de repente, nos deixando absolutamente na saudade.
JÔ SOARES, apresentador

"O Miele é um dos pais do entretenimento brasileiro. Criou o chamado "pocket show", como conhecemos, com roteiro e textos. Se você pensar em toda a área de shows da Globo, foi ele quem ajudou a construir. Quando ele trabalhava na TV, foi receber o pessoal da bossa nova e não cabia no sofá, então pegou um banco. Veio daí o conceito do banquinho e violão. E o que ele não fez? Foi o primeiro a lançar um disco de rap, o "Melô do Tagarela". Lançou disco de piadas, foi roteirista, escreveu livros. O que fica para mim é uma vida muito intensa. Ele foi fazer 'Dança dos Famosos' [quadro do 'Domingão do Faustão'], já estava com o joelho machucado. É um homem renascentista. Para a Elis, a importância dele se deu sobretudo quando ela não se dava muito bem com o meu pai. Ela acabou tendo no Miele um foco de confiança. Ele sabia acolher um talento, sabia dar segurança. Realmente sabia conduzir o artista e extrair o melhor dele. Ele gostaria de continuar a turnê do show que fizemos neste ano [em homenagem aos 70 anos de Elis Regina]. Era uma coisa em que ele estava empenhado pessoalmente, feliz: dizia que não morreria sem fazer esse espetáculo. Um cara muito especial, um dia ele vai ser estudado."

JOÃO MARCELO BÔSCOLI, produtor musical e filho de Elis Regina e Ronaldo Bôscoli

"Todas as homenagens para ele. Nossa senhora... Somos amigos desde os 18 anos. Estou com 78, foram 60 anos de amizade. O que posso dizer é que foi um artista completo. Conheci o Miele quando ele ainda era garoto, nem artista ainda. Começou sendo contrarregra. Quando o dr. Roberto Marinho pediu para voltar com a "Praça da Alegria", para fazer uma homenagem após um ano da morte do meu pai [Manuel de Nóbrega], o Miele fez [o papel que era de Manuel] durante mais de um ano, sentado no banco. E fez com muito carinho, não era o tipo de humor que ele fazia. Ele bebia demais, sabe? Era a própria representação do boêmio carioca, embora fosse paulista. Dormia às vezes na calçada, nos bancos da praia de Copacabana, porque não tinha lugar para dormir Deu um duro desgraçado e venceu. Foi um artista completo, cantava, era um grande diretor, comediante."

CARLOS ALBERTO DE NÓBREGA, humorista e apresentador do "A Praça é Nossa"

"O Miele é uma pessoa muito querida e muito próxima de mim a vida inteira. Ele foi um dos nossos maiores incentivadores, foi quase um formador de plateia, desde a nossa estreia, com [o musical] "Cole Porter". Quando a gente começou a trabalhar em "O Mágico de Oz", a gente logo pensou nele. O Miele é o Mágico de Oz brasileiro, estava perto de tudo, ele circulava praticamente como uma figura mítica. Ele era um couringa dentro da vida artística. Era um cantor sem ser cantor, ator sem ser ator, jornalista sem ser jornalista. Era uma enciclopédia viva. Estar em contato com ele era como estar em um mundo de Oz. Ele era um evento, uma aparição."

CHARLES MÖELLER, diretor de teatro, dirigiu Miele no espetáculo "O Mágico de Oz", em 2012

"Ele foi muito importante para os Dzi Croquettes, amor. Era amigo de Lennie Dale [Leonardo La Ponzina, cantor e ator]. Lembro do dia em que o Lennie nos levou pela primeira vez ao Pujol [Monsieur Pujol, boate de que Miele foi dono]. Foi hilário. Estávamos com roupas andróginas. Quando Miele viu aquilo, disse: 'Já estão contratados, só pelo visual!'. A partir daí fizemos shows lá. Aquela era uma época tão louca que eu nem sei se ele nos produzia. Ele subia no show com a gente, fazia um número. Apoiava-nos mesmo na época do ostracismo. Sempre foi vanguarda."

BAYARD TONELLI, bailarino e membro do grupo Dzi Croquettes

"O Miele teve uma importância fundamental para todos os artistas do Brasil. Cara fundamental para a bossa nova. Uma coisa importante é que ele não ficou só lá atrás, ele sempre se atualizou, descobriu novos talentos, trabalhou até o último dia de vida dele. Eu trabalhei com ele em "O Mágico de Oz", dividi camarim com ele e ouvi histórias interessantíssimas da história da música no Brasil. Depois eu tive a honra de representar ele no cinema [na cinebiografia sobre Elis Regina, em finalização], o que foi motivo de muita alegria. Estivemos juntos em gravação lá no Beco das Garrafas. Ele chegava com todo o astral dele. Fazia admiradores onde passava. Miele era um mestre de cerimônias, um ator, cantor, entertainer. Setenta e sete anos é muito cedo para alguém como Miele."

LUCIO MAURO FILHO, ator, interpretou Miele no filme "Elis"

"Uma pena, um cara tão vivaz. Quando surgiu a ideia de ele fazer uma participação na primeira temporada do 'Tá no Ar' fazendo uma propaganda do Miele Gold, um trocadilho, eu liguei pra ele, e ele topou na hora. E foi incrível. Neste ano não conseguimos que ele participasse, mas há dois meses nos encontramos num almoço e ele me pediu para fazer a terceira temporada. Ele tinha múltiplos talentos. Sempre brinquei que queria saber o que ele preenchia na ficha de hotel: músico, diretor, ator, produtor, showman? Ele era de uma inteligência enorme, tinha capacidade de se adaptar. Ele fazia qualquer coisa bem. E frequentou as melhores mesas do Brasil, nas mais diferentes épocas."

MARCIUS MELHEM, roteirista e ator da Globo, um dos criadores do "Tá no Ar"

Quando chamamos Miele para fazer o Wexler, melhor amigo e sócio do Mandrake, um personagem ao mesmo tempo engraçado e generoso, já na primeira reunião com ele vimos que o personagem estava ali. Ele morreu e eu não consegui visitar o bar que ele tinha em casa e vivia me chamando. Nunca vou me perdoar por isso.Uma coisa é certa, a partir de hoje o céu vai ficar mais engraçado e generoso.
JOSÉ HENRIQUE FONSECA, cineasta, dirigiu Miele na série "Mandrake"

"Eu acredito que exista um Antonio's no céu. Se existir mesmo, podem separar mais um lugar na mesa hoje."
BRUNO MAZZEO, ator, roteirista e diretor, no Twitter

"Miele fez praticamente tudo no mundo do entretenimento. Divertiu a gente e se divertiu. Fica em paz."
SERGINHO GROISMAN, jornalista e apresentador, no Twitter

"Miele. Muita história, grande figura. Eu o interpretei numa série da Globo, criador e criatura, ele brincava.. Descanse em paz."
DAN STULBACH, ator e apresentador, no Twitter

"Ele estará eternamente nas nossas farras. Te amo Miele."
LUÍS MIRANDA, ator, no Instagram

O SBT, sua diretoria e seus funcionários lamentam o falecimento do produtor musical, ator e diretor Luiz Carlos Miele, de 77 anos. Além de ter sido um respeitado produtor musical, Miele fez parte da história do SBT, onde comandou o programa Cocktail, exibido com grande sucesso de audiência entre agosto de 1991 e agosto de 1992.
SBT, em nota divulgada à imprensa


Endereço da página:

Links no texto: