Folha de S. Paulo


Fundador do WikiLeaks, Julian Assange vira personagem de Asterix

Se fosse fácil prever as coisas, nenhum gaulês precisaria de adivinho. Mas, no universo das HQs, um fato parece claro de antemão: "Asterix e o Papiro de César" não vai precisar de poção mágica para vender.

O novo gibi da franquia milionária será publicado simultaneamente ao redor do mundo em 22 de outubro, já traduzido para 20 línguas. Será o 36º volume da saga e um dos fenômenos editoriais do ano.

O anterior, "Asterix entre os Pictos" (2013), vendeu 2,4 milhões de cópias na França e 4 milhões fora desse país.

A Folha conversou com o desenhista Didier Conrad e o roteirista Jean-Yves Ferri.

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Imagem de “Asterix e o Papiro de Cesarâ€, novo gibi da franquia milionaria que sera publicado simultaneamente ao redor do mundo em 22 de outubro, ja traduzido para 20 linguas. Divulgacao. ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Imagem de "Asterix e o Papiro de César", gibi que será publicado ao redor do mundo em 22 de outubro

Segundo os autores, os gauleses Asterix e Obelix vão lidar com temas relacionados à comunicação e ao controle da informação. Um dos mocinhos será o jornalista Superpolemix, inspirado em Julian Assange, fundador do WikiLeaks –que só não foi chamado "Wikilix" porque a piada pareceu óbvia demais. Todos os gauleses têm nomes nesse estilo.

"O controle da informação é um tema central hoje", diz Ferri. "Foi divertido fazer piada com isso, imaginar como era a comunicação da época."

Assange, asilado na embaixada do Equador em Londres e vigiado pela polícia, não foi avisado da homenagem. "É difícil entrar em contato com ele", diz Conrad. Assange é acusado de vazar informações e de crimes sexuais. "Mas ele não vai se decepcionar."

O vilão também faz parte do universo da comunicação. Com aparência baseada no publicitário francês Jacques Séguéla, Promocionus será um novo assessor de Júlio César.

IMITAÇÃO

Asterix, um dos maiores ícones dos gibis, foi criado pelo desenhista Albert Uderzo e pelo roteirista René Goscinny em 1959. Goscinny morreu em 1977, e Uderzo aposentou-se em 2009 aos 82 anos.

Conrad e Ferri assumiram a franquia em 2013, com "Asterix entre os Pictos". Seu trabalho é supervisionado por Uderzo, que acompanha o processo e sugere mudanças.

"Estou muito feliz que encontramos dois autores para continuar o que criamos", afirmou ele na segunda-feira (12) durante conversa com a imprensa. "Muitas pessoas me pediam para fazer isso."

"Eles são talentosos e se encaixam no trabalho que pedimos a eles. Não é fácil. Eles não estão no começo da carreira, e é difícil seguir certas regras a essa altura."

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Imagem de Asterix e o Papiro de CesarÂ, novo gibi da franquia milionaria que sera publicado simultaneamente ao redor do mundo em 22 de outubro, ja traduzido para 20 linguas. Divulgacao. ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Imagem de "Asterix e o Papiro de César", já traduzido para 20 línguas

E não são poucas: o objetivo é que os leitores não percebam a diferença. Ou seja, Conrad precisa copiar o traço de Uderzo, e Ferri tem de reproduzir o humor de Goscinny.

A tarefa é mais árdua para Conrad, que tem seus desenhos aprovados por Urdezo. Ele conta que rascunha as cenas com o seu próprio estilo e, depois, refaz tudo imitando o do desenhista. Leva, assim, o dobro do tempo que tomaria rabiscando seus próprios personagens.

Parece pouco divertido. Mas Conrad, 56, diz que o processo lhe ajuda a aprimorar seu traço. "Estou envelhecendo, e fica difícil se renovar. Aprendo com Uderzo."

TROCA É INCOMUM

O gaulês Asterix é um dos símbolos de uma forte cultura franco-belga de quadrinho, assim como o repórter Tintim, criado pelo belga Hergé.

É um mercado com tradição em edições em livro, voltadas a um público que inclui também os adultos, ao contrário dos EUA, onde são tradicionais os super-heróis como Homem-Aranha e Superman, lançados em revistinhas para crianças e adolescentes.

Por se tratar de um personagem caro ao público, a decisão de entregar sua produção a uma nova dupla de artistas foi um passo arriscado.

No caso de Tintim, a viúva de Hergé garante que não permitirá novas histórias até que a HQ seja de domínio público.

Charles Platiau/Reuters
Author Jean-Yves Ferri (R) and illustrator Didier Conrad (L) pose with a print of the cover of their new comic book
O autor Jean-Yves Ferri (dir.) e o ilustrador Didier Conrad com "Asterix e o Papiro de César"

A decisão de continuar as histórias de Asterix também não agrada a gauleses e romanos. O britânico Paul Gravett, especialista em gibis, tem lá suas dúvidas. "Algumas pessoas têm um espaço dedicado a essas HQs na biblioteca, mas consideram que a obra já está completa."

Em entrevista à Folha, ele compara o mercado franco-belga, onde diversos personagens são publicados durante um longo tempo, ao japonês. Nos mangás, diz, as obras são ligadas a determinados autores e pouco frequentemente se prolongam.

"Isso torna o mercado bastante dinâmico, dá espaço para novos personagens."

Já os heróis americanos seguem suas histórias há décadas. Vivem o suficiente, porém, para ver a constante queda em suas vendas.

ASTERIX E O PAPIRO DE CÉSAR
AUTORES Didier Conrad e Jean-Yves Ferri
EDITORA Record
QUANTO R$ 30 (48 págs.)


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