Folha de S. Paulo


CRÍTICA

'Lulu Nua e Crua' foge de clichês com bom desempenho de atriz

A sensação de déjà-vu é inevitável no começo de "Lulu Nua e Crua". A ideia da mulher que abandona tudo e cai no mundo para se redescobrir tem ecos de "Pão e Tulipas", "Shirley Valentine", "Bagdad Café", "Ela Vai" etc.

Mas, de forma lenta e por vezes titubeante, o filme da diretora Sólveig Anspach, baseado em HQ de Étienne Davodeau, consegue driblar os clichês que a situação põe em seu caminho e firmar uma personalidade própria.

A protagonista é Lucie (Karin Viard), chamada de todos por Lulu, talvez por sua canina bonomia.

Na primeira cena, ela se dá mal em uma entrevista de emprego em uma cidadezinha francesa, a alguma distância de sua casa. De sopetão, Lulu decide não voltar para o lar, deixando marido e filhos à espera. O motivo nunca fica claro –um marido desinteressado, o desejo de mudança–, e essa ambiguidade se revela como um dos trunfos do filmes.

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Cena de Lulu Nua e Crua Crédito Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Karin Viard é Lulu em cena de "Lulu Nua e Crua"

Em suas perambulações, Lulu encontra um simpático ex-detento que se apaixona por ela (Bouli Lanners), uma senhora que não quer morrer solitária (Claude Gensac), uma garçonete abusada pela patroa (Nina Meurisse).

São todos personagens claramente simbólicos, representações de caminhos que se abrem para Lulu: a paixão (e um novo compromisso), a solidão (ou a fuga dela), o abuso (ou a sua recusa).

Lulu vaga sem rumo entre essas possibilidades –e essa indefinição por vezes contamina "Lulu". Há, por exemplo, toda uma subtrama bufona, ligada aos dois irmãos do ex-detento, deslocada em relação ao eixo do filme.

Mas, no resto da narrativa, a atuação afinada de Viard segura o prumo de "Lulu Nua e Crua", dá um rosto peculiar ao filme e garante o encanto de sua mensagem final, de um feminismo discreto, mas determinado.

LULU NUA E CRUA (LULU FEMME NUE)
DIREÇÃO Sólveig Anspach
ELENCO Karin Viard, Bouli Lanners, Claude Gensac, Nina Meurisse
PRODUÇÃO França, 2013, 14 anos
QUANDO estreia nesta quinta (8)


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