Folha de S. Paulo


'Nise' mostra luta solitária para humanizar hospícios

Destaque desta terça-feira (6) no Festival do Rio, o filme "Nise - O Coração da Loucura", de Roberto Berliner, revisita um cenário bastante conhecido do cinema, incluindo o brasileiro: o hospício.

Estão lá os alienados com suas idiossincrasias, os enfermeiros mau-caráter e a discussão sobre métodos considerados desumanos para o tratamento dos loucos.

O diferente nesta obra é que o protagonista vive do lado de fora dos muros.

Gloria Pires interpreta Nise da Silveira (1905-1999), psiquiatra alagoana que, a partir dos anos 1940, propôs aos pacientes de um manicômio do Rio atividades lúdicas como pintura e cuidado de animais domésticos.

A proposta humanista, vista pelos colegas como coisa de comunista, a fez se chocar com as alas mais conservadoras da psiquiatria tradicional, que defendiam métodos como eletrochoque e lobotomia.

Divulgação
Cena do filme
Cena do filme "Nise - Coração da Loucura", que será exibido no Festival do Rio 2015

"Ela encontrou o próprio caminho a partir de algo que ainda não tinha sido traçado", diz Gloria à Folha.

A atriz conta que passou cerca de um mês de imersão no hospital em que Nise atuou, na zona norte do Rio, e que hoje abriga o Museu de Imagens do Inconsciente, com obras feitas pelos próprios pacientes.

"Estávamos imbuídos daquela história: deu para ter um panorama muito grande da situação do doente mental e dos tratamentos cruéis por que passam."

Para Berliner, a presença da atriz pôde organizar o trabalho em meio à "maluquice toda" das filmagens. "Gloria é um pouco como Nise: sabe se colocar de forma positiva dentro do caos."

O diretor propôs que os atores do filme fizessem ensaios dentro do próprio hospital psiquiátrico, ainda em atividade e que também serviu como locação para "Nise - O Coração da Loucura".

"A nossa produtora praticamente se mudou para lá. Estávamos todos misturados aos pacientes", diz Berliner.

O longa destaca os feitos artísticos dos pacientes de Nise: telas figurativas, mandalas, esculturas –que ganharam a atenção do crítico de arte Mário Pedrosa (Charles Fricks) e do psicoterapeuta Carl Gustav Jung– e traz ainda um depoimento da própria Nise.

"Ela era uma mulher rebelde", diz o diretor. "Enfrentou o sistema porque era radical, porque era desobediente."

O filme será exibido às 22h30, no Cinépolis Lagoon, av. Borges de Medeiros, 1.424, tel. (21) 2512-3002.

O jornalista GUILHERME GENESTRETI viajou a convite do Festival do Rio


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