Folha de S. Paulo


Prodígio do improviso, Jacob Collier prova que é gênio no festival Mimo

Jacob Collier é um jovem inglês franzino de 21 anos que poderia muito bem passar por um personagem nerd em um filme adolescente. Ainda mais vestindo uma camiseta branca com a letra "C" dentro de um círculo e calças baggy multicoloridas, figurino que escolheu para se apresentar na noite desta sexta (2) como a principal atração do dia do festival Mimo, em Paraty.

Quando começa a tocar sozinho no palco, prova que sua inteligência é de outra natureza: confirma, ao vivo, a alcunha que lhe foi concedida pelo jornal britânico "The Guardian" de "novo messias do jazz".

A música de Collier é algo que parece fugir da compreensão, à frente do tempo.

Homem-banda, ele despontou aos 17 no YouTube, com uma performance sua para "Don't You Worry About a Thing", de Stevie Wonder —música com que abriu o show em Paraty— em um impressionante arranjo: gravou um "selfie" com seis versões de si mesmo e, em cada uma delas, reproduzia apenas com a voz os instrumentos e os vocais da canção.

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Desde então, acabou garantindo a presença na última edição do prestigiadíssimo festival de jazz de Montreux e atraindo a atenção do produtor americano Quincy Jones, parceiro de Michael Jackson no álbum "Thriller", com quem entrará em estúdio para gravar o seu primeiro álbum.

A curiosidade era saber se a proposta de Collier funcionaria ao vivo. Deu certo: transitava com desenvoltura entre o piano de corda, bateria, teclado, sintetizador, guitarra, baixo, cello, escaleta, tamborim, preenchendo as notas de cada música com variações de sua voz modificadas eletronicamente. Criava arranjos ali, na hora, sozinho.

Para tanto, utilizou uma parafernália eletrônica desenvolvida em conjunto com o MIT (Massachusetts Institute of Technology), uma das mais respeitadas escolas de tecnologia e inovação do mundo. Combinava inserções oportunas de frases ao piano, por exemplo, com bases gravadas previamente em um sintetizador.

Gabriela Sá Pessoa/Folhapress
O homem-banda britânico Jacob Collier, 21, no festival Mimo, em Paraty
O homem-banda britânico Jacob Collier, 21, no festival Mimo, em Paraty

No telão, uma projeção também criada por técnicos do MIT criava ilusões de óptica com Collier, multiplicando a imagem do músico de maneira a dar a impressão de que ele tocava vários instrumentos ao mesmo tempo.

A mistura maluca em releituras de hits de Stevie Wonder e Burt Bacharach, além de uma composição própria, intrigou o público da praça da Matriz, em Paraty. O local estava cheio, mas não lotado: era possível circular sem problemas pelo espaço. Até a redação desta nota, nem a produção nem a Guarda Civil souberam informar o público estimado na noite.

Metade da plateia estava distraída, conversando entre si ou disputando balões de gás hélio de um dos patrocinadores. A outra, mal se movia observando Collier saltar de um instrumento para o outro.

INSTRUMENTAL

O Mimo surgiu há 11 em Olinda, dedicado à música instrumental —neste ano, chega à cidade histórica pernambucana em novembro, depois de passar pelo Rio de Janeiro. Em Paraty, acontece desde 2013.

A programação do festival segue até domingo (4), com mostra de cinema, oficinas com os músicos escalados e shows de Carlos Malta & Pife Muderno e de Salif Keita, do Mali, a "voz de ouro" da África, no sábado (3).

A jornalista GABRIELA SÁ PESSOA viajou a convite da organização do festival Mimo


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