Folha de S. Paulo


Camarote do Rock in Rio é para 'dar um break' na crise, diz convidada

Empresário no ramo de livros infantis, Carlos Eduardo Filho, 27, circula com uma fantasia da cerveja Duff pela área VIP do Rock in Rio, na noite de quinta (24).

"Fui pra Ibiza e vi um cara indo pra balada com esta roupa. Achei tão top que pedi para a minha mãe fazer uma pra mim", diz o homem trajando botas brancas e macacão azul sem manga, o logo da bebida predileta de Homer Simpson cravado no peito. Para completar o visual, sunga (por cima da roupa), boné e capa vermelhos.

Carlos Eduardo conta que está lá graças à irmã, a nadadora olímpica Jéssica Brun Cavalheiro. Ela descolou com o patrocinador ingressos para o espaço que Roberto Medina, o "Mágico de Oz" do festival, disse ter criado para ser um "hotel seis estrelas".

Anna Virginia Balloussier/Folhapress
Carlos Eduardo e a irmã, Jéssica Brun Cavalheiro, na área VIP do Rock in RioAnna Virginia Balloussier/Folhapress
Carlos Eduardo e a irmã, Jéssica Brun Cavalheiro, na área VIP do Rock in Rio

Do ar-condicionado no talo ao open bar de cerveja, drinques e energético, tudo é "top demais" na opinião de Carlos Eduardo –ou "Caze Coxinha", como assina nas redes sociais.

"Acabei de voltar do Deftones, estou todo arregaçado", diz o empresário, com um copo de bebida na mão. Ele segue sua trilha de pensamento com um xingamento à presidente Dilma Rousseff.

No espaço, a insatisfação com a petista e a alta do dólar são tópicos tão quentes quanto as bandejas de couscous vegetariano com legumes marinados e nozes, capeletti de carne com molho de ragu de cogumelos e risotos nas opções brasileirinho com carne seca e couve crocante ou limão siciliano com frutos do mar. São criações da chef Samantha Aquim, contratada para servir 2,5 toneladas diárias de comida para 4.000 convidados VIP.

"Se continuar como está, no Rock in Rio 2017 só vai dar pão com ovo. E vai sair por US$ 1, ou seja, uns R$ 500", calcula a designer de joias Tamara ("assim mesmo, sem sobrenome"), 29.

Alheia à torre de mortadela ao seu lado, ela fabrica uma teoria sobre a subida da moeda americana implicar numa próxima edição "com uma área VIP que oferece mesa de frios enfeitada por aquelas rosas esculpidas no tomate, um horror".

Ela se vira para pegar o shot de uma cerveja mexicana e quase derruba a bandeja de cachorro-quente carregada por um garçom. Pergunta se a repórter da Folha ficou sabendo que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi vaiado ao pisar na varanda do camarote, no início do show do Seal, no domingo passado (21).

"Achei uó. Santinho ele não é, mas mais vale um Cunha na mão do que dois tucanos voando, né? É ele quem pode nos ajudar", afirma a "anti-Dilma de carteirinha" Tamara, que diz torcer para que o peemedebista autorize a abertura de um processo de impeachment contra a presidente.

Para Simone Lima, secretária-executiva de construtora que prefere não revelar a idade, desfrutar das benesses "seis estrelas" é "dar um 'break' nisso tudo, uma pequena compensação para esquecer o que o Brasil está passando".

Sentada num dos pufes da varanda, ela conta não ter "estrutura para enfrentar esta concentração de gente". Refere-se à multidão que preenche a Cidade do Rock –estimadas 85 mil pessoas por dia.

"Aqui tem conforto sem nenhum constrangimento e um nível muito bom de frequência", diz, dando goles numa lata de energético, seu pulso piscando com a pulseira de luzes distribuída de brinde por um banco.

POUCO 'BAFÃO'

Fora a vaia a Cunha, a área VIP está dando "pouco bafão" neste ano, reclama uma repórter encarregada de ficar na cola de celebridades. Digno de nota, diz, só o beijo trocado entre os colegas de "I Love Paraisópolis" Bruna Marquezine e Maurício Destri.

Alguém lembra da apresentadora Geovanna Tominaga, que declarou ao UOL, do Grupo Folha, ter ido ao Rock in Rio para ver Nirvana –banda liderada por Kurt Cobain, morto há 21 anos. Era o dia do Metallica.

Com a gafe, Geovanna "viralizou" pela segunda vez. Em 2009, repórter do "Vídeo Show" (Globo), levou um fora ao vivo da atriz Susana Vieira, que disse "não ter paciência para quem está começando".

Os VIPs têm uma entrada privada, longe da "muvuca". A imprensa só pode entrar em dois horários: 20h às 21h e 22h30 às 23h30. Para os V-VIPs (very, very important people), há um camarote dentro do camarote –acesso barrado a todas as horas.

Editoria de Arte/Folhapress
Especial Rock in Rio
Rolê Rock in Rio

TODA HORA É HORA

"Toda hora tem uma coisa diferente", diz a estudante de biologia Ana Beathryz Reimol, 20, enquanto o ator Marcelo Serrado (que interpreta Roberto Medina num filme de ficção sobre o festival) passa rente.

Com top cropped preto (que deixa a barriga de fora) e maquiagem de purpurina nos olhos, ela e a irmã, a estudante de pré-vestibular Catharyna Reimol, 18, haviam acabado de ganhar convites para uma festa num hotel próximo.

O funcionário público Diego Medeiros, 26, também está "maravilhado". Come um canapé de queijo quente com manteiga de trutas e corre para tirar uma selfie com Tatá Werneck.

Tudo é "nota 1.000, pode beber à vontade", diz o rapaz, que se adornou com boné e corrente grossa de prata para curtir System of a Down (sistema de uma decadência, em português).

"Melhor ter gasto o dinheiro em outras partes, né? A saúde está precisando", pondera em seguida. Ao seu lado, três mulheres gritam "saúde" –nesse caso, um brinde com seus chopes da Heineken.

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Editoria de Fotografia/Folhapress
Especial Timelapse Rock in Rio 2015
Especial Timelapse Rock in Rio 2015

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