Folha de S. Paulo


'Tô rolando sobre pedras', diz cadeirante sobre BRT para o Rock in Rio

A estudante de direito Amanda Moreira, 33, diz em tom bem-humorado que seu trajeto do ônibus do BRT (único transporte que chega na Cidade do Rock) até as portas da Cidade do Rock foi "rolling stones".

Em português, o nome da banda de Mick Jagger e Keith Richards significa algo como "pedras a rolar". Mas Amanda, na cadeira de rodas desde que sofreu um acidente de cavalo há quatro anos, prefere traduzir assim: "Tô rolando sobre pedras".

"'No satisfaction'", ela continua, rindo, cantando Rolling Stones para descrever a travessia de pouco mais de 1 Km que encarou, nesta quinta (24), entre o ponto final do ônibus e os portões do evento.

As reclamações de cadeirantes para esta edição se concentram em dois pontos: o caminho do BRT até o festival, com trechos cheios de pedregulhos e areia, e a área reservada aos PNE (portadores de necessidades especiais) para assistir aos shows.

O aposentado Felipe Diniz, 26, empatiza com Amanda. Diz que sobra mesmo para o analista de sistemas Fabrício Diniz, que fez 30 anos nesta quinta (24) e ganhou "de presente de aniversário" a missão de empurrar o primo cadeirante pelo Rock in Rio.

"Quem tem que reclamar é ele, que me carrega", afirma Felipe, que tem polimiosite, doença crônica que afeta a musculatura. Eles vieram de São Gonçalo, na Baixada Fluminense, até a zona oeste carioca para ver o show do System of a Down.

Tanto Amanda quanto Felipe compararam o trajeto do ônibus à Cidade do Rock a uma "corrida com obstáculos", sobretudo de pedra e areia.

Os dois também concordam que o espaço para deficientes físicos assistirem às apresentações não é dos melhores.

Não há qualquer sombra sobre a área do palco Sunset, onde a programação começa à tarde, quando o sol está inclemente. "A gente não pode simplesmente peregrinar até achar um canto bom. Sacanagem", diz Amanda.

Já a zona PNE para o palco Mundo está "um pouco deslocada", o que prejudica a vista para os artistas, segundo Felipe. O perímetro fica num canto periférico à esquerda do palco. Como os shows começam às 19h, o sol não é problema.

Segundo a organização do Rock in Rio, "o local escolhido para os cadeirantes é aquele que possibilita melhor acessibilidade aos PNEs".

Já a Secretaria de Transportes afirmou, em nota, que montou uma operação "que está permitindo o acesso de cadeirantes" ao evento, via BRT, "respeitando-se a gratuidade e a preferência de embarque". Não falou sobre o trecho que liga o ponto final do ônibus ao festival, mas ressalvou que não "realiza obras".

OUTRO LADO

O consórcio operacional do BRT diz estar à disposição, na estação Rock in Rio, um serviço de shuttle para "pessoas com mobilidade reduzida", oferecido pela organização do festival.

A Folha conversou com quatro cadeirantes, que desconheciam esse serviço.

"Lamentamos o transtorno enfrentado pelos clientes Amanda Moreira, Felipe Dniz e Fabrício Diniz e esclarecemos que a área de brita está fora da estação Rock in Rio, em logradouro público sobre o qual não temos ingerência", diz o consórcio, em nota.


Endereço da página:

Links no texto: