Folha de S. Paulo


Mostras em SP debatem censura e liberdade de expressão no teatro

Em nossa recente democracia, ainda é muito latente no Brasil o tema da censura, agora abordado em eventos de teatro em São Paulo.

O Sesi recebe o 7º Ciclo de Dramaturgia até 8/10. Trata-se de palestras, leituras, e encenação de duas peças: "Solilóquios" e "Em Abrigo", ambas dirigidas por Johana Albuquerque. Todos envoltos na temática Dramaturgia e Liberdade de Expressão.

"Temos uma discussão ainda muito tímida sobre peças que tenham sido censuradas", diz a jornalista e dramaturga Marici Salomão, que coordena o ciclo.

Segundo ela, ainda vivemos uma espécia de censura, agora ditada por interesses econômicos. "A própria iniciativa privada restringe alguns temas."

"Acho que hoje há uma incapacidade de debate público", completa o diretor Aimar Labaki, um dos palestrantes.

Eliane Torino/Acervo João das Neves
Foto da peça
"Primeiras Estórias de João das Neves" encenada em Minas em 1990

Ele lembra do caso de"A Mulher do Trem", peça do grupo Os Fofos Encenam, que teve uma sessão cancelada neste ano após acusação de racismo por uso de "blackface".

"Hoje a censura existe, mas ela é pulverizada, capilarizada e semiprivatizada", diz a professora Maria Cristina Castilho Costa, coordenadora do Obcom - Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura.

O grupo de pesquisas participa do projeto Censura em Cena, que começa neste sábado (26) no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc.

São leituras dramáticas, seguidas de debates, de peças que foram vetadas pelo governo paulista. A primeira é "A Semente" (1961), de Gianfrancesco Guarnieri.

"Muitas vezes, a censura é feita com o aval da opinião pública. Há casos em que as pessoas fazem abaixo-assinados, dando argumentos como questões morais [para vetar os trabalhos]", afirma a professora, que coordena as mesas de debates do evento.

Também no sábado (26), o Itaú Cultural abre, dentro do seu projeto Ocupação, uma mostra sobre o diretor João das Neves. Criador do Grupo Opinião –coletivo carioca que, nos anos 1960, montou espetáculos de protesto contra o regime– João teve muitos trabalhos perseguidos e censurados pela ditadura.

"O Brasil se livrou da ditadura, mas ainda somos um país de mentalidade muito retrógrada em muitos sentidos", opina o encenador.

Denominado Anos de Chumbo, esse é um dos quatro eixos que guiam a exposição. O cenário é formado por um corredor que remete ao espetáculo dele "O Último Carro" (1976), que se passa em um vagão de trem.

Ali há fotos, fac-símiles de algumas de peças, áudios e cartas, todas do acervo do encenador, que remetem a esse período. "É um espaço mais sombrio, com paredes cinza, que lembram um muro", explica Tânia Francisco Rodrigues, coordenadora do Núcleo de Enciclopédias do Itaú.

Os demais eixos mostram o lado pessoal de João, além de sua relação com diferentes cidades. Nascido no Rio, em 1934, onde trabalhou por muitos anos, mudou-se para o Acre no fim da década de 1980. Ali conviveu com o ativista Chico Mendes e com índios da tribo Kaxinawá.

Há quase 20 anos, vive em Minas Gerais, onde dirigiu peças como "Madame Satã", que será apresentada na próxima terça (29), dentro da programação paralela da mostra.

7º CICLO DO NÚCLEO DE DRAMATURGIA SESI-BRITISH COUNCIL
QUANDO até 8/10
ONDE Centro Cultural Fiesp - Ruth Cardoso, av. Paulista, 1.313, tel. (11) 3146 7434
PROGRAMAÇÃO no site do Sesi

CENSURA EM CENA
QUANDO "A Semente": sáb. (26), das 14h às 18h
ONDE Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, r. Dr. Plínio Barreto, 285, tel. (11) 3254-5600
QUANTO grátis
INSCRIÇÕES pelo site do sesc ou em suas unidades

OCUPAÇÃO JOÃO DAS NEVES
QUANDO de ter. a sex., das 9h às 20h, sáb. e dom., das 11h às 20h; de 26/9 a 8/11
ONDE Itaú Cultural, av. Paulista, 149, tel. (11) 2168-1776/1777
QUANTO grátis


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