Folha de S. Paulo


Alexandre Herchcovitch perpassa vinte anos de carreira em livro

Quando perguntarem a Alexandre Herchcovitch o que ele já fez na vida, ele poderá responder: sorvete, kit de brindes para aniversário, curativo e copo de requeijão. Roupa também, mas ela, objeto principal do seu ofício de estilista, é apenas uma fatia do que sua marca homônima se tornou em 20 anos de existência, celebrados com um livro a ser lançado nesta quinta (24).

São as perguntas de 11 pessoas que conheceram a sua trajetória que guiam "Alexandre Herchcovitch 1:1".

A partir dos questionamentos de profissionais de imprensa e amigos, o estilista escolheu imagens curadas durante um ano e meio pelo seu assistente, Daniel Haad, para ilustrar a publicação.

Não constam da obra o sucesso no mercado de licenciamentos, grosso do faturamento de sua marca e responsável por manter no guarda-roupa de brasileiros a imagem de uma caveira, desenhada por ele e hoje símbolo da grife, um hit do final dos anos 1990.

Bob Wolfenson/Divulgação
Marina Dias veste body coleção Inverno 1994 e tricô feito com fios de couro coleção Inverno 2000, todos de Alexandre Herchcovitch. Body acervo Normanda e bota acervo Marina Dias. As imagens são do livro 1:1, que perpassa os 20 anos de carreira do estilista. Bob Wolfenson/Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Marina Dias veste body coleção Inverno 1994

No livro, contudo, estão raridades colhidas do armário de antigos clientes, muitas delas, feitas sob medida. As peças foram registradas em estúdio, pelo fotógrafo Bob Wolfenson. Marcelo Ferrari (a celebridade da noite "Marcelona"), o cabeleireiro Celso Kamura e a modelo Marina Dias são algumas delas.

"Não é um livro autobiográfico, nem cronológico. Não houve censura às perguntas, queria que as pessoas ficassem livres para me questionar", explica o estilista à Folha.

Entre as imagens mais interessantes estão a do seu primeiro desfile, quando cursava moda na Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, e peças publicitárias antigas, embebidas do universo anárquico, e até soturno, criado pelo estilista no início da carreira.

Não está no livro um dos episódios mais comentados de sua carreira: Dilma Rousseff. Em 2010, quando a presidente saiu em campanha para a primeira eleição, Herchcovitch foi chamado para criar um novo visual para a petista. "Ela não quis nada", diz ele.

A parceria se resumiu a dois guarda-roupas criados pelo designer em menos de um mês, e que, segundo ele, "não tinha nada de novo". "Coloquei as cores que ela queria, o vermelho, o off-white, o branco, só que com o meu olhar. [Dilma] nem provou."

O estilista diz que, hoje, poderia fazer outra tentativa para a presidente. "Mudaria pouca coisa. Ela já está usando estampa, algo que ela nem queria na época que a conheci. Apenas colaria mais as roupas no corpo", conta.

Quanto à política econômica da antiga cliente, ele não palpita, mas diz que "o Brasil perdeu a oportunidade de ser um exportador de moda". "O problema foi meu e de outras marcas, que atrasavam pedidos, não sabiam lidar com o mercado internacional."

1:1 - Alexandre Herchcovitch - 20 Anos
Alexandre Herchcovitch
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Em meados dos anos 2000, ele chegou a manter loja em Nova York e Tóquio e vendia suas peças para mais de 70 multimarcas internacionais.

"O Brasil não tem como competir com marcas de luxo. Nossa qualidade é muito inferior à das grifes internacionais e cobrávamos pela roupa o mesmo valor que elas."

ALEXANDRE HERCHCOVITCH 1:1
AUTOR Alexandre Herchcovitch
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$ 89,90 (320 págs.)


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