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Mesmo lotado, Rock in Rio decepciona com repetições e pouca ousadia

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A sexta edição do Rock in Rio, que começa nesta sexta (18), comemora os 30 anos do festival com o line-up mais desinteressante de sua história. A lotação esgotada nos sete dias de shows, com 595 mil ingressos vendidos ou utilizados em promoções, explica-se pela característica do evento, que é uma atração em si; o público quer ir à Cidade do Rock e comprar uma camiseta "Rock in Rio: Eu Fui".

Se o empresário Roberto Medina incluiu, sozinho, o Brasil no circuito dos shows internacionais de rock e pop em 1985, seu mérito agora é transformar o festival numa espécie de Disneylândia para adultos. E, como aos turistas em busca de Mickey e Donald, ele tem a oferecer o que o grande público quer, uma zona de conforto.

Os fãs do Metallica que o digam. Mesmo sem lançar um disco há sete anos, o grupo pesado americano comparece a seu terceiro Rock in Rio seguido. A produção do festival trabalha com a noção de que poucos artistas conseguem ser headliners (como são chamadas as principais atrações de cada noite) para plateias de 85 mil pessoas.

Editoria de arte/Folhapress
Esgotado - Rock in Rio
Rihanna (esq.), Rod Stewart, Katy Perry e James Hetfield, que voltam a se apresentar no festival

Neste ano, a escalação rendeu-se completamente a esse conceito. Pela primeira vez na história do festival, todos os headliners já tocaram em edições anteriores: Queen (1985), Metallica (2011, 2013), Rod Stewart (1985), System of a Down (2011), Slipknot (2011), Rihanna (2011) e Katy Perry (2011).

Em 2013, apenas dois headliners foram repetidos: os pesados Metallica e Iron Maiden. Além disso, as novidades Beyoncé e Bruce Springsteen colaboraram para elevar a qualidade dos shows no país, com um nível sem precedentes de produção (ela) e entrega no palco (ele).

Há menos surpresas. O palco secundário Sunset, que se destacou nas últimas edições por promover encontros inusitados entre dois ou mais artistas, desta vez apresenta sete shows individuais, convencionais: Magic!, John Legend, Korn, Halestorm, Lamb of God, Deftones e Al Jarreau.

Várias atrações não lançam discos há muito tempo. Além do Metallica, System of a Down (dez anos), Mötley Crüe (sete) e A-Ha (seis).

Na escalação de brasileiros no palco principal, apenas Lulu Santos e Paralamas tiveram sucesso recente em turnês. Cidade Negra e CPM 22 despencaram em popularidade.

Houve uma substituição desanimadora. Com o cancelamento da vinda da cantora sueca Robyn, veio a convocação do duo eletrônico inglês AlunaGeorge, uma obscuridade que tocará para 85 mil pessoas no palco principal.

Sucesso comercial inegável, o Rock in Rio 2015 não empolga quem quer boas novidades musicais.

FIQUE DE OLHO

A revista "Billboard" chamou Ryan Tedder de "o rei desconhecido do pop". Porque o vocalista do One Republic faz um sucesso estrondoso como produtor e compositor.

Sua lista de trabalhos incluem parcerias com Madonna, U2, Rihanna, Adele, Beyoncé, Maroon 5 e Taylor Swift. Sua composição "Bleeding Love", gravada pela cantora inglesa Leona Lewis, chegou ao topo das paradas em 25 países.

Veja, abaixo, 13 canções que provavelmente você não sabia que eram composições de Ryan Tedder:

13 canções de Ryan Tedder

PALCO SUNSET

Local de resultados interessantes nas duas últimas edições do Rock in Rio, o palco Sunset diminui um pouco neste ano a concentração de encontros musicais destinados a surpreender. Principalmente nos dias de rock pesado, várias bandas fazem apresentações individuais ali, como Korn, Lamb of God e Deftones.

O primeiro dia do evento, no entanto, abre com dois shows que talvez seduzam quem procura combinações estranhas, no bom sentido.

O primeiro show do Rock in Rio 2015 reúne uma banda carioca de instrumentistas bem jovens, Dônica, e o arranjador setentão Arthur Verocai.

Com um currículo impressionante, que inclui colaborações com Ivan Lins, Marcos Valle, Benjor e outras feras, Verocai talvez possa burilar um pouco o Dônica. O grupo do filho caçula de Caetano Veloso, Tom, pode ter talento que não reluziu no CD de estreia, badalado mas inconsistente.

Outro encontro de gerações diferentes se dará no segundo show do dia, embora ninguém em cima do palco possa ser chamado de "garoto". Nasi e Edgard Scandurra, cinquentões do Ira!, se unem ao rapper Rappin Hood e, surpresa, a Tony Tornado.

Aos 85 anos, Tornado preserva uma energia que espantou os colegas de palco nos ensaios. "É demais", contou Nasi à Folha. "E não é só como ele canta ou dança. As histórias de vida são extraordinárias. Foi paraquedista, lutou no Canal de Suez. Eu ficava sentado, só ouvindo."

O convite foi ideia de Nasi e Escandurra. O curador do palco Sunset, o músico Zé Ricardo, deixou a dupla à vontade. "Nem sei como vai ser ali, na hora, mas o desejo é que dê muito certo", diz Nasi.

Depois, o palco Sunset recebe o pernambucanos Lenine e, para fechar o dia, uma homenagem a Cássia Eller, tipo de apresentação que já se torna regular no Rock in Rio. Quem puxa o tributo são Nando Reis e Arnaldo Antunes, além de músicos que tocavam com Cássia.

Veja a programação e a estrutura do festival na página especial dedicada à festa

Editoria de Arte/Folhapress
Especial Rock in Rio
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