Folha de S. Paulo


Filme venezuelano vence Leão de Ouro, mas é vaiado em Veneza

Num ano em que o mexicano Alfonso Cuarón presidiu o júri do Festival de Veneza, os dois únicos títulos latino-americanos na competição principal —a coprodução Venezuela-México "Desde Allá", de Lorenzo Vigas, e o argentino "O Clã", de Pablo Trapero— foram os maiores vencedores da mostra.

"Desde Allá", obra sobre a conturbada relação entre um homem que repele o contato e um garoto pobre de Caracas, ganhou o Leão de Ouro desta edição. Já o argentino Trapero saiu com o prêmio de melhor diretor.

O acaso, contudo, não passou batido pela imprensa no local, que vaiou estrondosamente a vitória de "Desde Allá", primeiro filme latino-americano a ganhar o Leão de Ouro na história do festival.

Em terreno europeu, Cuarón foi bombardeado de perguntas sobre um suposto favorecimento dos títulos latinos. "Minha presença tem o mesmo efeito político que a figura da Rainha da Suécia. Meu voto tem o mesmo peso que o dos demais membros do júri."

Diretor artístico do Festival de Veneza, Alberto Barbera já havia apontado que considera este um bom período para o cinema latino-americano.

"Neste momento, é o mais interessante do mundo", disse ele, em entrevista à Folha. "Há anos que se investe na produção, mas agora é que vemos a qualidade chegar aos filmes."

O estreante em longas Lorenzo Vigas também comentou o status da produção no continente.

"Estamos conectados, porque compartilhamos de alguns dos mesmos problemas, mas ao mesmo tempo estamos distantes. Esse filme é um esforço pequeno nessa integração, mas que sirva de base."

"Desde Allá" tem diretor venezuelano, ator chileno (Alfredo Castro), produtores mexicanos (Guillermo Arriaga e Michel Franco) e montadora brasileira (Isabella Monteiro de Castro).

O título, que pode ser traduzido como "de lá", já anuncia que a obra trata de embates: social (de duas pessoas de diferentes origens) e físico (entre um personagem que repele o contato e outro, que é carente).

A animação "Anomalisa", de Charlie Kaufman e Duke Johnson, saiu com o grande prêmio do júri, único prêmio dado aos americanos.

Os europeus ficaram com prêmios laterais: o francês "L'Hermine" ganhou como melhor roteiro e melhor ator (Fabrice Luchini), e o italiano "Per Amor Vostro" deu à sua protagonista, Valeria Golino, o prêmio de melhor atriz. Já o turco "Abluka", de Emin Alper, se saiu com o prêmio especial do júri.

Abraham Attah, menino que protagonizou o violento "Beasts of No Nation", de Cary Fukunaga, ganhou o prêmio de ator revelação.

BRASIL

Fora da competição principal, o cinema Brasileiro levou o prêmio do especial do júri na mostra Horizontes, competição paralela em Veneza. O segundo prêmio mais importante dessa seção foi "Boi Neon", do pernambucano Gabriel Mascaro.

"É muito difícil estar aqui. Sei que toda a equipe está feliz e que todos fizeram parte disso", afirmou Mascaro, ao receber o prêmio.

"Boi Neon" traz Juliano Cazarré no papel de um vaqueiro do interior do sertão que nutre o desejo de ser costureiro. Maeve Jinkings e Vinicius de Oliveira também estão no elenco.

Outro filme nacional, "Mate-me Por Favor", de Anita Rocha da Silveira, também concorria nesta mostra, mas não levou prêmios, tampouco o curta brasileiro ""Tarântula", de Aly Muritiba e Marja Calafanje.

Outro filme nacional, "Mate-me Por Favor", de Anita Rocha da Silveira, também concorria nessa mostra, mas não levou prêmios, tampouco o curta brasileiro "Tarântula", de Aly Muritiba e Marja Calafanje.

Confira a lista dos premiados na mostra principal:

Leão de Ouro
"Desde Allá", de Lorenzo Vigas

Leão de Prata
"O Clã", de Pablo Trapero

Grande Prêmio do Juri
"Anomalisa", de Charlie Kaufman e Duke Johnson

Prêmio Especial do Júri
"Frenzy", de Emin Alper

Melhor Ator
Fabrice Luchini, por "L'Hermine"

Melhor atriz
Valeria Golino, por "Per Amor Vostro"


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