Francisco Matarazzo andou nesta semana pela avenida paulistana que leva seu nome.
Foi na Casa das Caldeiras, antigo centro das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, que se filmaram as derradeiras cenas de "Gigantes do Brasil", série em quatro episódios prevista para ir ao ar em 2016 pelo canal History, que conta a história do conde e de outros três grandes empreendedores que mudaram o país na virada do século 19 e no começo do 20.
A cena gravada na antiga fábrica é a de Matarazzo desembarcando de um navio (no caso, um pano verde de "cromaqui", que na edição será substituído pela imagem náutica no computador).
Na país, ele vai conhecer os outros três protagonistas do seriado: Guilherme Guinle (1882-1960), Giuseppe Martinelli (1870-1946) e Percival Farquhar (1864-1953).
Esses quatro homens de negócio ajudaram o país a dar um salto de industrialização e urbanismo, mas também colocaram o pé um no caminho do outro. E é isso o que a série quer explorar.
"O canal passou os nomes dos personagens e fomos buscar suas histórias para o roteiro", diz Tiago Mello, da produtora Boutique, responsável pelo seriado. Dois historiadores foram chamados para vasculhar acontecimentos históricos que ligassem os personagens e dessem um ritmo narrativo ao produto.
NOVELA HISTÓRICA
"Foi um pouco difícil achar o lado não laudatório desses homens. Saber das rixas, do lado humano", diz o historiador Luiz Gustavo, da USP.
"Eles precisavam interagir entre eles, a história precisava ter uma liga. Foi aí que trabalhamos", diz a historiadora Márcia Camargo.
Familiares como o político Andrea Matarazzo (sobrinho-neto do industrial) e Maria Bonomi (neta de Martinelli) toparam dar depoimentos sobre a convivência com os antepassados. "Mas a verdade é que a memória familiar está esvaecida", diz Gustavo.
Em busca de informações, eles pesquisaram acervos de empresas fundadas pelos protagonistas, como a Light, no Rio (por Farquhar), e arquivos particulares paulistas.
Em jornais italianos antigos, descobriram uma briga entre Martinelli e Ermelino Matarazzo, um filho de Francisco, que não consta na biografia de nenhum dos dois.
Os atores também pegaram em livros. "O caminho natural é estudar, conhecer a lógica de como viveu aquele homem", diz o ator Ricardo Monastero.
Ele interpreta Guinle desde que era um rapagão até a terceira idade. Matarazzo ganhou a interpretação de dois atores –Renan Paini, para sua versão jovem, e Tadeu Di Pietro, que se assemelha de forma notável com o Matarazzo maduro e bigodudo.
São dezenas de figurantes na produção, a mais cara do History já feita no país –o canal não informa valores.
O History vestiu a camisa da empreitada. E a anágua, a saia rodada e o colete: duas gerentes do canal atuaram como figurantes na série, com direito a figurino completo.
A ambientação de época era completada pelo toró que caia na zona oeste da cidade durante as gravações, inundando ruas da região e dando ao navio cenográfico algum sentido.