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Coleção Moda de A a Z explica 'dandismo' e sua influência na moda

Antes de o cabelo penteado para trás, o terno com abotoadura e a gravata engomada virarem sinônimos de elegância para os homens, houve um tempo em que o conjunto peruca e roupas berrantes era o último grito da moda masculina. Foram os dândis, a partir do início do século 18, que mudaram esse padrão.

Higiênicos e de fala articulada, os poetas Oscar Wilde (1854-1900) e lorde George Bryan Brummell (1778-1840) foram expoentes desse estilo, descrito no quinto volume da coleção Moda de A a Z que a Folha publicará no próximo domingo (20).

A postura avessa à burguesia enfeitada da época acompanhava um ar de superioridade. Ser dândi era, além de tudo, um estilo de vida. Festas luxuosas e rituais mundanos –como o uso de água e sabão para lavar os cabelos, algo considerado pouco viril – identificavam essa trupe.

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Literatura: o escritor irlandês Oscar Wilde. (Foto: Reprodução) *** DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM ***
O escritor irlandês Oscar Wilde, símbolo do estilo "dândi"

Brummel, chamado de "o belo" e descrito como o rei da moda, adotava lenços no pescoço, gravatas de musselina, calças longas e a cor azul em seu uniforme. A distinção inerente à sua personalidade e seu guarda-roupa é até hoje reverenciada pela indústria da moda.

O poeta britânico George Byron (1788-1824) chocou ainda mais a sociedade inglesa quando abriu os botões dos coletes, desamarrou as echarpes e vestiu calças longas e largas.

DORIAN GRAY

Variações desse estilo perduraram até o século 19, quando Oscar Wilde carimbou a marca dos dândis na história.

Assim como o personagem que dá nome ao título do seu romance "O Retrato de Dorian Gray", Wilde sustentava um fascínio pela beleza e pelo estilo.

Na imagem mais célebre do escritor, datada de 1882, casaco de pele, bengala, lenço e um anel de pedra traduzem a evolução do dandismo, que nas décadas seguintes inspiraria o movimento cultural decadentista.

Toda a graça e o apreço pelos detalhes popularizados pelos dândis guiam a cartilha da moda masculina até os dias de hoje, apesar de as únicas heranças táteis dessa corrente serem o fraque e a cartola, duas peças usadas apenas em cerimônias extremamente formais.

A ideia por trás do movimento estético, no entanto, ainda martela a cabeça dos criadores de moda.

Queiram os "modernos estampados" ou não, a alfaiataria e o detalhismo monocromático dândi são a base do guarda-roupa do homem contemporâneo.

Ao mesmo tempo, é curioso observar que os ideais pregados pelos dândis, como contravenção, palavra perseguida a todo custo pelos estilistas, agora simbolizam a uniformidade de gosto em que está atolada a moda masculina.


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