Folha de S. Paulo


Prestes a estrear série, Lázaro Ramos se prepara para ser Martin Luther King

Ao atender à ligação de Jorge Furtado, há alguns meses, Lázaro Ramos interrompeu seu parceiro de longa data quando ele falou "ideia" e "convite" na mesma frase. "Jorge, não quero saber. Não me conte porque sei que vou gostar", respondeu o ator.

O baiano de 36 anos tinha um único objetivo em 2015: estrear ao lado da mulher, Taís Araújo, a peça "O Topo da Montanha", um projeto de dois anos do casal. O ator comprou os direitos do espetáculo que narra as últimas horas de Martin Luther King e foi montado na Broadway.

Furtado, que trabalhou como diretor e/ou roteirista em várias produções com Lázaro, insistiu para que ele "só" lesse a sinopse.

Ricardo Borges/Folhapress
Rio de Janeiro, RJ,BRASIL, 10/09/2015; Retrato do ator Lazaro Ramos em condominio na Barra da Tijuca. (Foto: RIcardo Borges/Folhapress. ) *** EXCLUSIVO FOLHA***
Retrato do ator Lazaro Ramos em condomínio na Barra da Tijuca, no Rio, usado para gravações de nova série

Pedido aceito, texto lido, telefonema retornado: "Tá certo, Jorge. Vambora!", respondeu o ator, que em 2014 fez a novela "Geração Brasil".

Nascia assim o mais novo cantor de sucesso internacional: Mister Brau, personagem-título da nova série cômica da Globo. A atração, com direção-geral de Maurício Farias, estreia no dia 22 no lugar de "Tapas & Beijos".

O seriado é protagonizado por Lázaro e Taís, que é sua companheira também na ficção. Ela será Michele, empresária do músico.

Brau é um carioca do subúrbio que fica milionário e não abandona suas origens. É daí que surgirão os conflitos da trama. Os vizinhos da família em um condomínio de luxo na Barra, no Rio, não gostarão dos hábitos dos recém-chegados.

MISTER OPINIÃO

A música de Brau, dizem Furtado e Lázaro, não pode ser definida por um gênero, e sim uma mistura (rock, pop, axé etc.). Ele faz "mash-ups", colagens de canções.

"Ele não está dentro de nichos, de rótulos", diz Lázaro à Folha, na gravação da abertura da série, no Rio. "É uma africanidade pop. Não dá para compará-lo a ninguém."

Para a série, ele, que estuda canto há anos, gravou 17 canções. As letras foram feitas por um grupo de compositores, entre eles Furtado.

Ele confessa dar palpite em tudo, da criação da identidade do músico ao figurino.

"Tinha pensado em parar um pouco de fazer TV. Fiz coisas legais, mas queria exercitar mais meu lado de autor, de criador. Aí veio 'Mister Brau', que está contemplando isso", conta ele, que também é apresentador e escreve livros infantis.

Para o ator, seu ofício, à vezes, "é muito só de obedecer!", diz, gargalhando, para logo explicar. "Eu obedeço, gosto de diretor. Mas tenho opinião. Venho de um grupo de teatro na Bahia em que criávamos juntos."

NEGRO NA TV

O ator diz que "já estava na hora" de uma série brasileira falando de uma família negra que ascendeu socialmente.

"Mas às vezes a gente cai numa armadilha de tratar os negros como se fossem uma coisa só, quando não é, não somos. Cada negro, cada história é repleta de coisas que a dramaturgia pode representar", afirma.

Lázaro diz que no início de seu trabalho na TV tinha receio de fazer personagens estereotipados, "de falar coisas com que não concordo" e de se sentir "subaproveitado", o que não aconteceu. "Quero mais protagonista preto, diretor preto, roteirista preto."

Furtado conta que, desde a concepção de "Brau", pensou em protagonistas negros.

"O Brasil tem 52% da população negra ou parda e essa porcentagem não está representada na dramaturgia nem na TV nem no cinema, ao contrário do que acontece nos EUA", afirma. "A série não é sobre racismo, mas ele aparecerá de forma velada."

LUTHER KING

O ator não precisou abandonar o projeto da peça para estrelar "Mister Brau".

No dia 9 de outubro, "O Topo da Montanha" estreia no Teatro Faap, em SP, com Lázaro dirigindo e atuando com Taís. "É uma peça que conseguiu humanizar o Luther King na sua última noite."

O ator já tinha ouvido dos diretores Dennis Carvalho e João Falcão que deveria montar a peça, mas foi depois de entrevistar o ex-ministro Joaquim Barbosa para seu programa "Espelho", no Canal Brasil, que teve certeza.

"Eis que o então chefe de gabinete dele, o Silvio Albuquerque, me entrega uma tradução. Falei: 'Não é possível!'"

A decisão de montar o espetáculo foi influenciada por Taís. "Ou eu fazia, ou o casamento acabava", fala.

Sobre a dobradinha com a mulher e mãe de seus dois filhos na TV e no teatro, ele diz adorar. E confessa não haver trocas". "Isso fica para o diretor. Eu só elogio! Casal para dar certo trabalhando junto tem que dar o mínimo de opinião possível. Eu falo: você tá linda, ótima [risos]."


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